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MENORES NA FOGUEIRA
Não bastasse serem hoje mais escolas de criminalidade que institutos de
ressocialização de menores, as unidades da Febem vez por outra também se transformam em câmaras de
horrores. Eles irromperam na Unidade Educacional 17, na véspera do último Natal, sob a forma de um incêndio que deixou um interno morto e
22 feridos. Surgem agora indicações
fortes de que, numa inversão completa das funções do poder público,
funcionários da fundação podem ter
provocado a tragédia.
De início, a versão havia sido a de
que os próprios menores tinham
ateado fogo ao dormitório, como
muitas vezes ocorre em tentativas de
fuga. Como eles denunciavam que o
incêndio teria sido causado por monitores, iniciaram-se investigações.
Na quinta-feira, um laudo da Polícia
Técnica conferiu maior verossimilhança à denúncia. Pelo documento,
traços de líquido inflamável nas portas do dormitório -precisamente
onde os internos diziam terem surgido as labaredas- corroboravam a
hipótese de incêndio intencional.
Além disso, somente monitores tinham acesso a esse tipo de líquido.
No dia seguinte, mais uma revelação comprometedora: funcionários
da própria unidade confirmaram à
polícia que colegas seus tinham espancado internos -nus- após o incêndio. O depoimento foi acompanhado por um promotor de Justiça.
Como alguns agressores foram identificados, já na mesma sexta-feira a
Febem afastou oito acusados.
A punição não pode deter-se nisso
se a bárbara tortura for definitivamente comprovada. É fundamental
julgar de maneira exemplar criminosos que agem em nome do Estado.
Romper, de vez, com a cultura de
complacência que termina por incentivar tais comportamentos.
Impõe-se porém reconhecer que a
punição de abusos não basta para
lancetar o tumor da Febem. Este continuará crescendo, com erupções esporádicas de violência dos dois lados
das portas de ferro, enquanto não for
revisado a fundo seu modelo.
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