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O edital da Vale
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Mesmo depois de esclarecimentos
publicados sobre a eventual privatização da Vale, continuo sem resposta
para perguntas que o cidadão, preocupado com o bem comum, tem direito
e obrigação de fazer.
A Companhia Vale do Rio Doce
(CVRD) constitui um dos maiores patrimônios do Brasil.
Não é ético decidir sobre sua privatização sem apresentar argumentos que
sejam realmente convincentes e justifiquem o enorme risco que corre o futuro desenvolvimento do país.
1) Por que vender a Vale, empresa
que honra o Brasil pela eficiente organização, alto padrão tecnológico,
competitividade internacional e crescente lucro que obtém?
Há poucos dias, divulgou-se o lucro
de R$ 632 milhões em 1996, que é 76%
maior do que o alcançado no ano precedente (R$ 395 milhões).
Os defensores da privatização argumentam que a empresa poderá crescer
mais e aumentar seu faturamento gerando empregos e expectativa de
maior arrecadação de impostos.
Não será um preconceito injustificado atribuir apenas à privatização garantias de crescimento que, já hoje, se
verificam nessa exemplar empresa estatal?
2) Acaba de ser fixado pelo governo
o preço mínimo de R$ 10,36 bilhões a
ser exigido pela venda da CVRD.
A União detém, atualmente, 51% do
capital da Vale (sendo 75,9% das ações
ordinárias e 6,3% das ações preferenciais). O governo espera alcançar R$ 3
bilhões com a venda de 45% das ações
ordinárias, podendo atingir o total de
R$ 5 bilhões ao comerciar, mais tarde,
as restantes ações.
Que motivo há para a União alienar
essa promissora estatal por preço relativamente tão pequeno, comparado
com a ampla concessão do direito de
explorar os valiosos recursos minerais
que hoje estão sendo comercializados
pela Vale?
3) Os R$ 5 bilhões a serem arrecadados destinam-se a resgatar parte da dívida mobiliária federal e formar, sob
BNDES, um fundo de empréstimos ao
setor privado. É lícito perguntar se essa efêmera vantagem da venda não há
de lesar gravemente benefícios futuros, a posição estratégica e a soberania
científica e econômica do país, garantida hoje pelo conjunto de empresas
da Vale. ``Vendida a galinha, terminam os ovos de ouro''.
4) Após a privatização, o BNDES terá
50% dos recursos minerais ainda não
explorados ou a serem descobertos.
Por que subtrair à União a outra metade que é nossa, da enorme e imprevisível riqueza de nosso minério?
À luz da consciência cristã, permanece a perplexidade diante da precipitação com que se procede em matéria
tão complexa e discutível. As obrigações importantes do governo com a
saúde pública, educação e justiça não
devem impedir que continue zelando
pela Vale que, com sacrifício e eficiência, nosso povo soube construir.
Neste tempo litúrgico de preparação
à Páscoa, somos chamados à conversão pessoal e, também, a assumir nossos deveres, em especial a co-responsabilidade em promover o bem comum.
D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados
nesta coluna.
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