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ANTONIO DELFIM NETTO
Abertura comercial
e inflação
Uma pergunta simples, mas de
resposta complexa: "Por que alguém se dispõe a exportar?". Por definição, nenhum agente individual precisa exportar. Ele se acomodará em
seu "nicho" tentando maximizar o resultado de sua ação, que será condicionado pelo sistema de preços estabelecido internamente pelo nível existente de "proteção". O seguro é que tal
economia será muito ineficiente.
Um dos poucos teoremas relevantes
da teoria do comércio internacional é
que se pode demonstrar, em condições muito gerais, que "algum comércio é sempre melhor do que nenhum
comércio". Quando um país abdica de
suas "vantagens comparativas", ele
está comprometendo a sua produtividade e cultivando a pobreza. Estamos,
pois, diante de um caso da famosa falácia da composição: o que vale para
cada um dos agentes não vale para todos, ou seja, para a nação.
É a nação, isto é, o conjunto de todos
os agentes, que necessita da exportação. Por quê? Simplesmente porque a
exportação é a moeda de troca no
grande "supermercado" mundial de
bens e serviços. A exportação é importante geradora de renda interna, mas é
ainda mais importante como instrumento de apropriação do "estado da
arte" da tecnologia mundial pelo país.
Com o valor obtido com a exportação do mais simples produto (uma
sandália havaiana ou um biquíni), podemos comprar o mais sofisticado
computador ou a licença para usar
um produto cujo desenvolvimento
custou bilhões de dólares -e também
o mais inútil lápis, com uma pequena
lâmpada no lugar da velha borracha, o
que os chineses produzem com tanta
eficiência. Tudo se encontra abundantemente disponível no grande supermercado mundial.
A estreita ligação estatística entre o
crescimento das exportações e o crescimento do PIB esconde um fato importante. O que acelera o crescimento
é o aumento da produtividade do trabalho, que se realiza pela incorporação de novas tecnologias embutidas
nos bens de capital, nos novos materiais, nos novos conhecimentos, nas
novas técnicas produtivas que podem
ser importadas. Mas só podemos ter
acesso a elas através das exportações.
É o "quantum" das exportações, corrigido pela relação de troca, que determina nosso poder de compra do
"quantum" das importações.
O poder de compra das exportações
e o valor das importações devem andar em relativo equilíbrio para que o
desenvolvimento se realize sem problemas externos e possa ser sustentável no longo prazo. As crises que se
abateram sobre as economias "emergentes" (mesmo quando não havia liberdade de movimento de capitais)
foram freqüentemente produzidas
pelo descompasso entre aquelas duas
variáveis.
Mas isso não é tudo. A grande revolução globalizadora das economias
dos anos 90 foi misteriosamente
acompanhada por uma diminuição
das taxas de inflação. No início da década, o economista David H. Romer
sugeriu que foi exatamente a generalizada abertura para o comércio exterior que reduziu a inflação no mundo.
Um recentíssimo trabalho de dois
competentes economistas do IPEA
(Sachsida, A. Mendonça, M.J.C. "Inflation and Trade Openness", Texto
para Discussão nš 1148, janeiro de
2006), usando dados de 152 países no
período 1950-1992, confirma, com
método mais sofisticado e apropriado, a conjectura de Romer: o grau de
abertura comercial é fator decisivo no
controle da inflação.
Logo, a maior abertura comercial
feita com inteligência e paciência ajuda tanto o crescimento como o controle da inflação.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
@ - dep.delfimnetto@camara.gov.br
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