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RUY CASTRO
É hoje!
RIO DE JANEIRO - O príncipe regente dom João desembarca hoje
no Rio com sua família e um enorme séqüito de nobres, funcionários,
aderentes e criados. Precisou que
Napoleão botasse suas tropas nos
calcanhares da Corte para que esta
fizesse o que há cem anos lhe vinha
sendo sugerido: transferir-se para o
Brasil.
Não se sabe o que, a médio prazo,
isso representará para a metrópole.
Mas, para a desde já ex-colônia, será
supimpa. Porque, a partir de agora,
ela será a metrópole. E, para estar à
altura de suas novas funções, terá
de passar por uma reforma em regra -não apenas cosmética, para
receber o corpo diplomático, o comércio internacional e os grã-finos
de toda parte. Mas, principalmente,
estrutural. Afinal, é um completo
arcabouço administrativo que se
está mudando.
Para cá virão os ministérios, as
secretarias, as intendências, as representações e a burocracia em geral. Papéis sem conta serão despachados entre esses serviços, o que
exigirá uma superfrota de estafetas.
A produção de lacre para documentos terá de decuplicar. O Brasil importará papel, tinta e mata-borrões
em quantidade, mas as penas talvez
possam ser fabricadas aqui, colhidas dos traseiros das aves locais.
Estima-se que, do Reino, chegarão 15 mil pessoas nos próximos
meses. Será um tremendo impacto
numa cidade de 60 mil habitantes.
Provocará mudanças na moradia,
na alimentação, nos transportes, no
vestuário, nas finanças, na medicina, no ensino, na língua. Com a criação da Imprensa Régia, virão os jornais. O regente mandará trazer sua
biblioteca. Da escrita e da leitura,
brotarão as idéias.
Até hoje, na história do mundo,
nunca a sede de um império colonial se transferiu para sua própria
colônia. É um feito inédito -digno
de Portugal. E que pode não se repetir nunca mais.
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