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Halloween
É lamentável que venha de Lula e acólitos a ação para absolver Collor do péssimo comportamento na Presidência
AO DISCURSAR numa cerimônia em Cabo Frio,
o presidente Lula trocou o nome da rainha
da Inglaterra. Em vez de dizer
"Elizabeth", imaginou que uma
"Margareth" da Inglaterra elogiaria a beleza da escola inaugurada pelo governador Sérgio Cabral numa favela carioca.
O lapso presidencial nada significa, exceto no que tange a detalhes nominais. Não é outro o
efeito, pela ótica do Planalto, da
derrota da petista Ideli Salvatti
para Fernando Collor de Mello,
na disputa pela Comissão de Infraestrutura do Senado.
Collor, José Sarney, Renan Calheiros: eis os nomes que se apoderam do Senado Federal, numa
espécie de noite de Halloween, e
que já não assombram as lideranças petistas hoje refesteladas
no poder federal.
São décadas de experiência política que simplesmente viram
fumaça nos ajustes entre Lula e a
fisiologia profissional.
Esquece-se o que significou todo o movimento dos "caras-pintadas" em favor do impeachment
de Fernando Collor. Esquece-se
o quanto esse presidente, eleito
com uma demagógica e mentirosa campanha de crítica aos marajás e à corrupção, revelou-se
um destrutivo adversário da moralidade pública e do próprio
funcionamento das instituições
democráticas.
Um demagogo não raro violento, apto a mobilizar milícias de
baderneiros em comícios e a invadir com forças policiais a sede
de um jornal, hoje se vê abençoado pela compreensão política do
presidente Lula -de quem, numa campanha caracterizada pelos golpes baixos, Collor arrebatou a Presidência em 1989.
Compreensão política ou cegueira? Tolerância ou cumplicidade? Para o presidente Lula, está em curso a política do vale-tudo; da "salada", como ele diz.
Eis que se dá a volta de José
Sarney -que faria jus a um recolhimento no qual polisse a imagem de estadista e escritor- à
presidência do Senado. Eis que
Renan Calheiros -antigo auxiliar de Collor, ministro da Justiça sob FHC, absolvido pela maioria dos senadores no episódio
das irregularidades que puseram
sob suspeita sua vida econômica
pessoal- volta a brilhar nas esferas do Legislativo brasileiro.
Todo esse processo é visto de
bom grado pelo presidente Lula,
que nada mais tem a ver com o
abespinhado opositor de Collor e
de Sarney. O poder amacia qualquer convicção. Lula parece preferir os sarneys e os collors à vaga
ameaça de resistência petista
contra seu jogo de acomodação.
Talvez se engane nesse aspecto:
os petistas não valem mais que
os sarneyzistas e os colloristas
nesse espetáculo degradante.
É lamentável que venha do
próprio presidente Lula, de seus
acólitos, de seus defensores falsamente indignados, a disposição para absolver um Fernando
Collor de Mello do péssimo comportamento na Presidência da
República.
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