São Paulo, domingo, 08 de março de 2009

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Halloween

É lamentável que venha de Lula e acólitos a ação para absolver Collor do péssimo comportamento na Presidência

AO DISCURSAR numa cerimônia em Cabo Frio, o presidente Lula trocou o nome da rainha da Inglaterra. Em vez de dizer "Elizabeth", imaginou que uma "Margareth" da Inglaterra elogiaria a beleza da escola inaugurada pelo governador Sérgio Cabral numa favela carioca.
O lapso presidencial nada significa, exceto no que tange a detalhes nominais. Não é outro o efeito, pela ótica do Planalto, da derrota da petista Ideli Salvatti para Fernando Collor de Mello, na disputa pela Comissão de Infraestrutura do Senado.
Collor, José Sarney, Renan Calheiros: eis os nomes que se apoderam do Senado Federal, numa espécie de noite de Halloween, e que já não assombram as lideranças petistas hoje refesteladas no poder federal.
São décadas de experiência política que simplesmente viram fumaça nos ajustes entre Lula e a fisiologia profissional.
Esquece-se o que significou todo o movimento dos "caras-pintadas" em favor do impeachment de Fernando Collor. Esquece-se o quanto esse presidente, eleito com uma demagógica e mentirosa campanha de crítica aos marajás e à corrupção, revelou-se um destrutivo adversário da moralidade pública e do próprio funcionamento das instituições democráticas.
Um demagogo não raro violento, apto a mobilizar milícias de baderneiros em comícios e a invadir com forças policiais a sede de um jornal, hoje se vê abençoado pela compreensão política do presidente Lula -de quem, numa campanha caracterizada pelos golpes baixos, Collor arrebatou a Presidência em 1989.
Compreensão política ou cegueira? Tolerância ou cumplicidade? Para o presidente Lula, está em curso a política do vale-tudo; da "salada", como ele diz.
Eis que se dá a volta de José Sarney -que faria jus a um recolhimento no qual polisse a imagem de estadista e escritor- à presidência do Senado. Eis que Renan Calheiros -antigo auxiliar de Collor, ministro da Justiça sob FHC, absolvido pela maioria dos senadores no episódio das irregularidades que puseram sob suspeita sua vida econômica pessoal- volta a brilhar nas esferas do Legislativo brasileiro.
Todo esse processo é visto de bom grado pelo presidente Lula, que nada mais tem a ver com o abespinhado opositor de Collor e de Sarney. O poder amacia qualquer convicção. Lula parece preferir os sarneys e os collors à vaga ameaça de resistência petista contra seu jogo de acomodação. Talvez se engane nesse aspecto: os petistas não valem mais que os sarneyzistas e os colloristas nesse espetáculo degradante.
É lamentável que venha do próprio presidente Lula, de seus acólitos, de seus defensores falsamente indignados, a disposição para absolver um Fernando Collor de Mello do péssimo comportamento na Presidência da República.


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