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CARLOS HEITOR CONY
O desprezado 13
RIO DE JANEIRO - Não sei se
ainda existem. Devem ser poucos.
Antigamente eram muitos. Vendedores de bilhete da Loteria Federal
estavam em toda a parte, caçando
potenciais compradores, esfregando na cara de suas vítimas os bilhetes que garantiam a sorte na base de
"seu dia chegará".
Os mais afoitos se agarravam na
dezena final e apelavam para os números do jogo de bicho: olha o pavão, quem vai querer o avestruz, hoje é o dia do cachorro. Havia uma
dezena que merecia um marketing
diferente. Era o desprezado 13:
"Quem vai querer o desprezado
13?".
A variante era constrangedora:
"Quem nasceu na feliz data de
1926?". Valia tudo para despertar a
esperança, que não é exatamente a
última que morre, mas a primeira
que nasce.
Nunca fui de tentar o destino e
dou de barato que não tenho sorte
com a sorte. Contudo, por solidariedade para com os desprezados,
sempre me sentia um deles e não
resistia ao apelo.
O técnico Zagalo é famoso porque adotou o 13 como a chave do sucesso que lhe deu três campeonatos
mundiais. Nos Estados Unidos, há
edifícios que aboliram o 13º andar,
passam do 12 para o 14 em solene
desprezo pelo mesmíssimo 13.
Houve um dia -sempre há um
dia- em que fui na onda e comprei
um desprezado 13, andava em complicada fossa sentimental por causa
de uma tal de Dolores, que morava
na Glória, mas trabalhava num salão de beleza do Leblon. Comprei o
bilhete, aliás, a metade de um, fiz
planos mirabolantes, ela não resistiria à minha súbita abastança.
Deu o 13 na cabeça, inteiro,
002413, me senti milionário pela
metade. Fui à casa lotérica buscar o
que era meu. O homem riu na minha cara. "Este bilhete não vale, veja a data, só vai correr no mês que
vem". E novamente riu na minha
cara, com desprezo.
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