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FERNANDO DE BARROS E SILVA
(Sub)Nudez castigada
SÃO PAULO - Parece até que essa
gente nunca viu mulher pelada. A
rigor, pelo que se noticiou, nem nua
Sonia Francine está. A subprefeita
da Lapa é na verdade uma "subpelada". A imagem é discreta, quase casta. Mas bastou para deflagrar uma
onda pudibunda de indignação, insultos, baixarias. Estamos diante de
um tribunal digno de uma farsa de
Nelson Rodrigues.
Moralismo e o oportunismo político mais baixo se misturam na reação à foto para a "Playboy". Uma revista semanal filiada ao lulo-governismo estampou as imagens de Soninha e de Cicciolina lado a lado,
comparando-as.
Sob o título "Eis outro plebiscito", a publicação diz que seu "voto"
vai para a atriz pornô italiana. E
conclui: "Se é para engrossar, engrossemos". Foram tão fieis a si
mesmos que engrossaram até o vernáculo. Lemos ali que Soninha está
em plena "ascenção política" -com
C cedilha. Isso, sim, é ironia fina.
Por incrível que pareça, há coisas
piores. Na internet, o blog de um
jornalista a serviço de Dilma Rousseff, em torno do qual gravita o lúmpen do petismo, acolhe e estimula
comentários francamente fascistas
sobre a nudez, no intuito de atingir
José Serra. Reuniu-se na rede uma
horda de mercenários e linchadores -analfabetos morais que agem
como filhotes de Mirian Cordeiro.
Mas há também uma reação à nudez genuinamente conservadora.
Ela aparece em comentários do tipo: "Enquanto ela fica pelada, a praça continua imunda". Ora, é claro
que a cidade não estaria em melhor
estado se Soninha fosse uma freira.
A subprefeita paga caro por ceder a
uma vaidade frívola, embora inofensiva, quando os descalabros da
administração Kassab vêm à tona e
São Paulo afunda em águas sujas.
Sim, Soninha não poderia ter escolhido hora mais imprópria para
atirar a roupa no Tietê. Mas, diante
de tanta hipocrisia e cafajestada,
poderia dizer, como o anjo pornográfico: "Não tenho culpa se o espectador resolve projetar em mim a
sua própria obscenidade".
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