São Paulo, terça-feira, 08 de março de 2011

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Digressões momescas

SÃO PAULO - Aécio Neves chega para fazer a sua boquinha na badalada Feijoada do Amaral. Vestido a caráter, estampando a "Devassa" no peito, se deixa fotografar com os patrocinadores da comilança momesca. "É um grande parceiro nosso", diz o anfitrião Adriano Schincariol. Uma socialite de São Paulo se levanta para beijar o senador mineiro: "Você jura que vai ser o nosso presidente?". É o sexo explícito no país do Carnaval.
Políticos não deveriam fazer propaganda de empresas privadas -parece elementar. Mas trocam seu prestígio e influência pelas mordomias dos espaços VIPs. São parceiros da promiscuidade entre o público e o particular, porta-estandartes do exclusivismo social a abrilhantar dos camarotes descolados a "festa bonita do povo".
Artistas, astros do futebol, modeletes, figurinhas que orbitam a "high society" se oferecem ao voyeurismo telecarnavalesco. A folia, de certa forma, se confunde com esse desfile vulgar de celebridades. Estão se divertido ou estão trabalhando? Curtem as delícias do ócio ou estão ali fazendo o seu negócio? Quanto vale cada fantasia? Oh, quanto riso, oh, quanta alegria!...
Salpicada de purpurinas, mamãe Galisteu exibe o corpucho, mais pelado do que vestido, para as câmeras. "Ela emagreceu 16 quilos em poucos meses", informa a repórter, reverenciando tanta determinação. Galisteu é uma sobrevivente num mercado ultracompetitivo, a rainha da reciclagem num mundo de descartáveis.
O culto ao peladismo, no entanto, parece em baixa. As "musas" estão mais pudicas e mais musculosas. A moda, pelo que espio, são barrigas-tanquinho e coxas parrudas, acintosamente modeladas pela malhação. O narcisismo de hoje é viril, de inspiração ultraesportiva.
Submetida aos caprichos do dinheiro, a festa da transgressão e do orgulho nacionais chega aos lares em versão familiar. Devassa, agora, é só um nome de cerveja. E até os políticos podem brincar o Carnaval.


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