São Paulo, terça, 8 de abril de 1997.

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ENERGIA COM A POLÍCIA

O governo estadual até agora não mostrou disposição de reagir com a energia que se esperava diante do lastimável caso da PM em Diadema.
Infelizmente, as declarações do secretário de Segurança, José Afonso da Silva, à Folha levam realmente a crer que o governo paulista optou por uma linha de atuação discreta, para não dizer omissa, diante do evidente quadro de deterioração da PM.
Em claro desacordo com o sentimento da população, Silva trata a selvageria de Diadema como um ``desvio''. Ou diz que, ``se tivéssemos uma sociedade de anjos, também teríamos uma polícia de anjos ou até nem teríamos polícia''.
O secretário até poderia argumentar que a reforma da polícia é uma tarefa que envolve enormes obstáculos práticos e políticos. Renovar os quadros de comando é uma tarefa difícil. A corporação está viciada há anos; seus membros mais graduados foram formados em governos autoritários ou em administrações descompromissadas com os direitos humanos. O recrutamento na base da tropa enfrenta problemas igualmente graves.
Mas quantos massacres serão necessários antes que o governo se empenhe em começar a enfrentar essa questão? A reestruturação deve ter início com a punição exemplar dos culpados. Sabe-se que isso não é tarefa exclusiva do governador. Ademais, a Justiça Militar costuma ser excessivamente branda com membros da corporação. Mas os casos recentes de insubordinação estão na alçada imediata do governador.
Outra de suas preocupações, espera-se, é procurar renovar os comandos. O comprometimento do atual governo com uma política de direitos humanos e a preocupação manifesta de Covas em civilizar os métodos da PM são louváveis, mas correm o risco de cair no vazio retórico das ``boas intenções'' caso não se traduzam, diante do episódio de Diadema, em ações efetivas.
Pesquisa do Datafolha revela que 23% dos paulistanos temem mais policiais que bandidos e 33% os consideram igualmente perigosos. Ainda há tempo para Covas começar a alterar esse quadro.

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