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CARLOS HEITOR CONY
Herr Meyer
RIO DE JANEIRO - Sempre admirei o Zé Dirceu, desde os tempos em que
ele arriscava a vida para lutar por
suas idéias, por sua concepção do
mundo e da sociedade. E torço sinceramente para que tudo dê certo com
ele, sobretudo na importante função
que hoje exerce.
Só não gostei de uma afirmação
sua a propósito de nem sei mais o
quê. Dirceu disse que, se determinada coisa acontecesse ou deixasse de
acontecer, ele mudaria de nome. Não
especificou se adotaria um dos codinomes que usou quando esteve na
clandestinidade. Provavelmente escolheria o nome mais comum dos
brasileiros, um Souza ou um Silva
-embora este último já esteja em
evidência. E, pior ainda, poderia passar por uma barretada -desnecessária por sinal- ao pai de todos os petistas, que também é Silva. como
grande parte dos brasileiros.
Lembro um exemplo histórico. Nos
inícios da Segunda Guerra Mundial,
quando a Alemanha obtinha vitórias
espetaculares, o marechal Herman
Göring, o segundo homem na hierarquia nazista, substituto de Hitler em
caso de emergência e comandante da
Luftwaffe, garantia que Berlim nunca seria bombardeada pelos aliados.
Protegida por seus aviões, a capital
do Reich jamais seria atacada. E, se
tal acontecesse, os alemães poderiam
chamá-lo de Meyer -"herr Meyer",
nome comum naquele país, equivalente mais ou menos a um sicrano ou
beltrano.
Não deu outra. Com Berlim destruída, nem houve tempo para Göring ir a um cartório mudar de nome
no Registro Civil. Continuou sendo
Göring ,e com esse nome foi preso e
julgado em Nuremberg. Para evitar a
forca, suicidou-se na sua cela.
Minha admiração pelo Zé Dirceu
-e o bom senso- impedem qualquer comparação com o líder nazista. Mas é bom não brincar com essas
coisas. Gostaria que o Zé Dirceu fosse
sempre o Zé Dirceu.
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