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CLÓVIS ROSSI
O capitalismo e o Reno
BASILÉIA - É estranho o, digamos, aparelho em que se reúnem os
banqueiros centrais do mundo
-ou, ao menos, os de 55 países representados na Basiléia, sede do
BIS (Bank of International Settlements, ou Banco de Compensações
Internacionais).
Trata-se de um edifício feio, cilíndrico, que até se assemelha a uma
usina nuclear, sem nenhuma segunda intenção na comparação. Em
nenhum ponto do prédio há alguma
placa ou sinal que o identifique.
Não figura nos mapas da cidade ou
em seus guias. De novo sem segundas intenções, até parece um desses
"private banks" em que a Suíça se
especializou.
Que sejam discretos é bom e eu
gosto. Mas acho que o mundo ganharia mais se, em vez de confinados ao cilindro em que discutem o
estado da economia mundial, tomassem um dos bondes que passam em frente e fossem, digamos,
até a Münsterplatz, a praça da catedral. Pelo menos aqui, bonde não
atravanca o progresso.
A Münsterplatz parece parada no
tempo, como se até ela não tivesse
chegado o trepidante capitalismo
moderno, que os banqueiros centrais devem teoricamente regular,
vigiar e controlar, embora muitas
vezes pareça que eles é que são controlados, regulados e vigiados pelo
tal de mercado.
Reinam silêncio e paz, acentuados pelo fato de que, do mirante nos
fundos da catedral, dá para ver o
Reno desfilando preguiçosamente.
Bicicletas encostadas à parede, enquanto os donos estão na missa,
dispensam cadeados. Ficam soltas,
como se à prova de roubo.
Suspeito que quem falar ali de
"hedge funds", "swap cambial reverso", euro x dólar, será tratado como um extraterrestre.
Não é saudosismo, juro, até porque não nasci na Suíça. Mas será
que ainda há tempo para combinar
a trepidação do capitalismo com
uma vida que seja mansa como as
águas do Reno?
crossi@uol.com.br
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