São Paulo, terça-feira, 08 de maio de 2007

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CLÓVIS ROSSI

O capitalismo e o Reno

BASILÉIA - É estranho o, digamos, aparelho em que se reúnem os banqueiros centrais do mundo -ou, ao menos, os de 55 países representados na Basiléia, sede do BIS (Bank of International Settlements, ou Banco de Compensações Internacionais).
Trata-se de um edifício feio, cilíndrico, que até se assemelha a uma usina nuclear, sem nenhuma segunda intenção na comparação. Em nenhum ponto do prédio há alguma placa ou sinal que o identifique.
Não figura nos mapas da cidade ou em seus guias. De novo sem segundas intenções, até parece um desses "private banks" em que a Suíça se especializou.
Que sejam discretos é bom e eu gosto. Mas acho que o mundo ganharia mais se, em vez de confinados ao cilindro em que discutem o estado da economia mundial, tomassem um dos bondes que passam em frente e fossem, digamos, até a Münsterplatz, a praça da catedral. Pelo menos aqui, bonde não atravanca o progresso.
A Münsterplatz parece parada no tempo, como se até ela não tivesse chegado o trepidante capitalismo moderno, que os banqueiros centrais devem teoricamente regular, vigiar e controlar, embora muitas vezes pareça que eles é que são controlados, regulados e vigiados pelo tal de mercado.
Reinam silêncio e paz, acentuados pelo fato de que, do mirante nos fundos da catedral, dá para ver o Reno desfilando preguiçosamente. Bicicletas encostadas à parede, enquanto os donos estão na missa, dispensam cadeados. Ficam soltas, como se à prova de roubo.
Suspeito que quem falar ali de "hedge funds", "swap cambial reverso", euro x dólar, será tratado como um extraterrestre. Não é saudosismo, juro, até porque não nasci na Suíça. Mas será que ainda há tempo para combinar a trepidação do capitalismo com uma vida que seja mansa como as águas do Reno?


crossi@uol.com.br

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