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CESAR MAIA
Propaganda e política
UMA AMPLA pesquisa sobre
eleições presidenciais nos
EUA, coordenada pela professora Kathleen Jamieson e publicada em 2000, mostrou que a
comunicação política mais eficaz é
a comunicação de contraste. Ou seja: eu sou assim, e ele é diferente.
Em comerciais de TV, o impacto
era de longe o maior quando comparado com os comerciais negativos (um candidato fala mal do outro) e os comerciais defensivos (assim chamados por Jamieson aqueles em que o candidato fala bem de
si e do que fez). Para ela, os comerciais negativos criam uma incomodidade inicial, mas fixam bem mais
que os comerciais defensivos. Estes são de muito baixa eficácia.
Neste início de campanha eleitoral, os dois candidatos favoritos
usam a comunicação de contraste.
Um diz: compare os currículos. Outro diz: compare os governos. Ambos atuam de forma convergente
com o que diz Jamieson. Por outro
lado, se realmente os comerciais
defensivos têm baixo impacto, não
têm razão os políticos que se preocupam tanto com o apoio da imprensa a este ou àquele governo.
Na semana passada, o diretor do
jornal "The New York Times", Bill
Keller, mostrou sua preocupação
com a imagem dos meios de comunicação pela responsabilidade na
deterioração da convivência política. Thomas Jefferson dizia que, se
tivesse que optar entre democracia
e imprensa livre, ficaria com esta
última, lembra Antonio Caño em
artigo no "El País".
Diz ele que pesquisas recentes
atribuem aos meios de comunicação grande parte da culpa pelo
atual clima de tensão política nos
EUA. Entre os nomes promotores
do ódio, diz Caño, estão os jornalistas G. Beck, da Fox News, e R. Maddow, da MSNBC. Beck pela direita,
e Maddow pela esquerda.
Afirma Caño que o "The Wall
Street Journal" adotou um tom belicoso e parcial desde que R. Murdoch assumiu seu controle, em
2007. E registra que o jornal é o
único dos 25 maiores dos EUA que
aumentou sua circulação no último ano, assim como a TV de Murdoch, que passou a liderar a audiência entre as redes de notícias.
Nas conclusões de Jamieson, se
os comerciais negativos são mais
eficazes que os comerciais defensivos, é possível que campanhas negativas pela imprensa rendam
mais leitores e audiência aos meios
que as utilizam. Mas daí a concluir
que além da circulação e da audiência isso afete o quadro político há
enorme distância.
Grondona, em sua coluna no "La
Nacion", na semana passada, lembrou que Perón disse certa vez:
"Quando tivemos quase toda a imprensa contra, ganhamos, mas
quando controlamos quase toda a
imprensa, perdemos". Ou seja: é
tão inócuo governos tentarem manipular a imprensa quanto a imprensa tentar manipular governos.
cesar.maia@uol.com.br
CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.
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