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CARLOS HEITOR CONY
A invasão e a Besta
RIO DE JANEIRO - A última terça-feira (6/6/06) formava o número da Besta do Apocalipse, responsável pelo terror dos tempos que o
inevitável pleonasmo chamou de
apocalípticos.
Ao longo dos séculos, o 666 foi
atribuído primeiramente a Nero,
terror dos cristãos. O último teria
sido Hitler, terror do mundo todo.
Nunca entendi como se faz a soma
das letras de determinado indivíduo para resultar neste 666 -coisas
da cabala. Já tentaram me explicar,
mas não entendi direito e, o que
parcialmente entendi, completamente esqueci.
Acontece que a terça feira formava no calendário o número fatal que
está no último livro da Bíblia cristã.
E foi marcada pela invasão do Congresso por gente do MLST, sob o comando de um petista amigo de Lula. Mais lenha na fogueira, não apenas pelo ato de selvageria em si
mesmo, mas pelo fato de a liderança estar ligada, pelo partido e pela
história pessoal, ao presidente da
República.
Evidente que a invasão foi devidamente (mas não sinceramente)
repudiada por todas as chamadas
forças vivas da nacionalidade. Provocou na verdade um protesto
equivocado. Seria mais lógico se a
turba indignada e disposta a tudo
fosse reclamar diante do Palácio do
Planalto, onde o presidente despacha. Nesse particular o Congresso
não tem culpa no cartório. A reforma agrária pretendida pelos sem-terra tem de nascer, crescer, ser administrada politicamente e executada pelo executivo. O legislativo
entrou de gaiato na história.
Além do mais, foi promessa formal de Lula durante a campanha
anterior e certamente será um carro-chefe na atual campanha na qual
já está mergulhado até o pescoço.
Não foi o Congresso que traiu os
sem-terra. Foi o presidente da República, sem vontade ou sem poder
para cumprir o que prometeu.
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