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ANTÔNIO ERMÍRIO
DE MORAES
Uma nova era
P
ELO QUE entendi das informações chegadas da reunião
da FAO em Roma, as questões
de energia e de alimentos ocuparam um lugar central. Não se chegou a condenar o uso da cana-de-açúcar e do milho como substitutos do petróleo. Mas tampouco
houve grandes aplausos para esse
tipo de substituição.
Em um dos documentos oficiais,
foi ressaltada a importância dos
biocombustíveis. Em 2007, a biomassa contribuiu com 10% no total
de energia consumida no mundo,
sendo que, entre os biocombustíveis, o etanol teve peso de 90%. Para tanto, os Estados Unidos usaram
23% de sua safra de milho, e o Brasil utilizou 54% da sua safra de cana-de-açúcar.
São números impressionantes e
que suscitam dúvidas. Será que isso não vai comprometer a produção de alimentos? Até que ponto a
atual alta de preços se liga à nova
atividade?
O assunto instiga discussões acaloradas. Ao que tudo indica, porém,
com discussão ou sem discussão, o
etanol será a grande estrela dos
próximos anos. A própria FAO estima que esse combustível, que hoje
é usado por apenas 1% do transporte rodoviário, em 2030 representará mais de 3% -e, dali para a frente,
o céu é o limite.
E então? Sobrarão terras para
plantar alimentos? E a segurança
alimentar?
A FAO considera que a realidade
dos países é muito heterogênea. No
Brasil, por exemplo, os técnicos,
em sua maioria, não acreditam que
o etanol vá onerar os alimentos.
Roberto Rodrigues, ex-ministro da
Agricultura, diz que, dos 62 milhões de hectares cultivados no
Brasil, apenas 3 milhões se destinam à cana que produz etanol.
A disponibilidade de terras é
imensa. E a possibilidade da produtividade crescer ainda mais é
muito grande com a chegada de novas variedades e novas tecnologias.
Com tecnologia e terras, o Brasil
está bem. Temos 220 milhões de
hectares de pastagens, dos quais 90
milhões podem ser usados para
agricultura. Destes, 22 milhões podem acomodar sem problemas a
cana-de-açúcar e 68 milhões podem ser usados na produção de
alimentos.
Ou seja, o Brasil pode fazer um
bom equilíbrio entre alimentos e
bioenergia. É uma questão de planejamento bem-feito e de execução rigorosa.
Mas, é claro, tudo tem de ser levado muito a sério. Estamos diante
de uma oportunidade fantástica: a
de sermos o principal país produtor na nova era energética. Com isso, criaremos muitos empregos e
teremos muitos impostos e muitos
investimentos. Tudo é muito. Oxalá o juízo também o seja!
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
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