|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Por outro lado
RIO DE JANEIRO - Outro dia, conversando com ilustre filólogo, referência obrigatória na matéria, comentamos as dissidências entre
gramáticas antigas e modernas,
mas sobretudo entre gramáticas e
os manuais de redação usados por
jornais, revistas, TVs, agências de
publicidade e de comunicação.
Sem entrar no mérito de uns e de
outros, constatamos que cada órgão estabelece regras próprias, ditadas por idiossincrasias naturais
que todos temos.
Graciliano Ramos odiava "entrementes". E "via de regra" ruborizava Guimarães Rosa. A expressão
"por outro lado" pareceu a pedra filosofal a unir o lide ao sublide. Até
que um chefe de copidesque deu o
grito: "É por esse lado mesmo!".
Cada redação tem o direito de
adotar seus critérios. Os manuais
são necessários para estabelecer
uma unidade de linguagem e de
comportamento ético, a famosa
deontologia que o Muniz Sodré citou há tempos.
Também são indispensáveis para a grafia homogênea de nomes e
regiões. Houve época em que alguns jornais escreviam "Kruchev",
outros "Kroutchouv" e os mais
comprometidos com a causa escreviam "Kruchov".
Também nas elisões, a mania
atual é evitá-las, apesar de os clássicos da língua abusarem delas no
verso e na prosa.
Quem tem razão? Todos e ninguém. A linguagem é livre e dinâmica. O "você" que aceitamos
sem contestação é redução simplória do vossa mercê, com estágio no
vosmecê.
O "tá" no lugar do "está", o "pra"
em vez de "para" são aceitos pelo
povo e pelos escritores menos ortodoxos. Os pronomes oblíquos começando frases já deram bomba
em muitos estudantes.
Por essas e por outras, tanto as
gramáticas como os manuais não
devem ser desprezados. Mas, quanto mais distante deles, melhor se
pensa, se fala e se escreve.
Texto Anterior: Brasília - Melchiades Filho: PTrificado Próximo Texto: Marcos Nobre: De cientistas e descolados
Índice
|