São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2010

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CARLOS HEITOR CONY

Por outro lado

RIO DE JANEIRO - Outro dia, conversando com ilustre filólogo, referência obrigatória na matéria, comentamos as dissidências entre gramáticas antigas e modernas, mas sobretudo entre gramáticas e os manuais de redação usados por jornais, revistas, TVs, agências de publicidade e de comunicação.
Sem entrar no mérito de uns e de outros, constatamos que cada órgão estabelece regras próprias, ditadas por idiossincrasias naturais que todos temos.
Graciliano Ramos odiava "entrementes". E "via de regra" ruborizava Guimarães Rosa. A expressão "por outro lado" pareceu a pedra filosofal a unir o lide ao sublide. Até que um chefe de copidesque deu o grito: "É por esse lado mesmo!".
Cada redação tem o direito de adotar seus critérios. Os manuais são necessários para estabelecer uma unidade de linguagem e de comportamento ético, a famosa deontologia que o Muniz Sodré citou há tempos.
Também são indispensáveis para a grafia homogênea de nomes e regiões. Houve época em que alguns jornais escreviam "Kruchev", outros "Kroutchouv" e os mais comprometidos com a causa escreviam "Kruchov".
Também nas elisões, a mania atual é evitá-las, apesar de os clássicos da língua abusarem delas no verso e na prosa.
Quem tem razão? Todos e ninguém. A linguagem é livre e dinâmica. O "você" que aceitamos sem contestação é redução simplória do vossa mercê, com estágio no vosmecê.
O "tá" no lugar do "está", o "pra" em vez de "para" são aceitos pelo povo e pelos escritores menos ortodoxos. Os pronomes oblíquos começando frases já deram bomba em muitos estudantes.
Por essas e por outras, tanto as gramáticas como os manuais não devem ser desprezados. Mas, quanto mais distante deles, melhor se pensa, se fala e se escreve.


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