São Paulo, quarta-feira, 08 de junho de 2011

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Dilma após Palocci

Presidente demorou demais para pôr um ponto final na crise aberta pelo ministro e agora precisa recompor a autoridade comprometida

O desfecho do caso Antonio Palocci se deu como quase todos esperavam: sai o ministro que teve seu patrimônio multiplicado por 20 em quatro anos como deputado e, depois, coordenador da campanha de Dilma Rousseff. O que ninguém contava era que causasse tanto prejuízo, em tão pouco tempo, à autoridade da presidente.
Transcorreram 24 dias entre a publicação da reportagem sobre os bens do ministro, nesta Folha, e sua demissão. No breve período, Dilma cometeu pelo menos dois erros graves.
O primeiro deles foi a demora em tomar a decisão. Não se admite, de um ponto de vista moral, que o ministro mais poderoso da República carregue para o coração do Planalto tamanha brecha de vulnerabilidade e oculte da presidente -para não falar do público- a extensão e a natureza dos negócios de sua firma.
Palocci, afinal, já passara por constrangimento ético comparável ao participar da quebra de sigilo de um caseiro quando era ministro da Fazenda do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Foi, na época, sacrificado a contragosto pelo presidente, que viria a reabilitá-lo como homem forte do governo de sua sucessora.
O segundo deslize de Dilma foi a aceitação passiva, se não a busca ansiosa, dessa tutela. O mentor não é personagem desprovido de argúcia a ponto de deixar passar em branco oportunidade de voltar tão cedo à cena política. O desembarque de Lula em Brasília, na semana retrasada, foi o ponto mais baixo até aqui da Presidência Dilma Rousseff, por patentear a disposição de partilhar a autoridade de que havia sido investida pelo voto popular.
O que nas primeiras semanas era motivo para elogios -um estilo mais discreto de governar, com atenção para os detalhes da coordenação gerencial não raro negligenciados por Lula, e certa firmeza no trato com demandas fisiológicas do próprio PT e de sócios na base de apoio parlamentar- revelou-se uma fraqueza. Antes mesmo de inteirar cinco meses em palácio, a presidente colheu a derrota estrondosa do Código Florestal.
As tentativas de manter Palocci no cargo só faziam aumentar a fragilidade de Dilma. Após orquestrar o revés na Câmara dos Deputados, o PMDB -partido do vice-presidente, Michel Temer- credenciou-se como "garantia da governabilidade". Poucos grupos são tão exímios no manuseio da chantagem como arma política.
Dilma acertou em não utilizar o novo pretexto para prolongar a crise oferecido pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que espera ser confirmado no cargo e não viu justificativa para investigar Palocci, divergindo de tantos. Tardiamente, mas acertou.
Agora, sobra-lhe a tarefa nada trivial de provar-se mais independente de Lula do que dá mostra o desfavorável balanço do episódio.


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