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LUIZ FERNANDO VIANNA
O autismo e a política
RIO DE JANEIRO - As traquinagens mensaleiras do PT devastaram restos de esperança que sobreviviam nessas terras. Para os pais de
autistas, o bolo de lama ainda veio
com uma desnecessária cereja: a
transformação do diagnóstico de
seus filhos em insulto político.
Chamar Lula, o governo ou a
equipe econômica de autista virou
bordão na boca de colunistas de jornal (inclusive deste), empresários
como Benjamin Steinbruch, políticos como Aécio Neves, Gustavo
Krause e José Carlos Aleluia, intelectuais como Marilena Chaui, Renato Lessa e Luiz Carlos Mendonça
de Barros, e políticos que já foram
intelectuais como Fernando Henrique Cardoso.
Nunca se ouviu desses seres públicos qualquer palavra no sentido
de construir algo em prol dos autistas, embora a síndrome atinja uma
em cada mil crianças nascidas no
mundo -o desinteresse deles ajuda
a entender por que jamais se fez um
levantamento no Brasil. Mas, na
hora de esbanjar ignorância e crueldade, eles não falharam.
O estereótipo do autista como alguém "fechado em seu mundo", base para os insultos, é falho, para não
dizer falso. Autistas têm dificuldades de linguagem, interação e assimilação de convenções, mas podem, se amados e estimulados, ter
vida social no "nosso" mundo.
Ao ajudar a estigmatizar a palavra
"autista", pondo-a no mesmo rol de
outras expressões pejorativas, esses seres públicos reduzem a chance dos autistas de também serem
públicos. Chatice politicamente
correta? Só pensa assim quem não
conhece o assunto.
Por causa de suas limitações, autistas não são hábeis para mentir,
para enganar, para falar palavras
em que não acreditam. Como diz o
pai de um deles, um autista pode ser
tudo, mas jamais será um canalha.
Já os políticos...
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