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CARLOS HEITOR CONY
Machado e a bossa nova
RIO DE JANEIRO - A tradição de
comemorar aniversários redondos
tem lá suas motivações e até mesmo sua utilidade. Em termos midiáticos, contudo, descamba para a redundância que torna insuportável a
repetição dos mesmos comentários
e a busca alucinada por novas interpretações. Somando tudo, o excesso termina chateando os consumidores.
Nada contra o centenário da
morte de Machado de Assis, mas tudo a favor. Tampouco pelo cinqüentenário da bossa nova, que, ao contrário de Machado, é um acontecimento datado na história da nossa
música popular.
Contudo, chega-se a um ponto de
saturação indesejável, não apenas
pela insistência, mas pela repetição
dos mesmos conceitos. Devoto de
Machado, não agüento mais ouvir
falar no presumível adultério de
Capitu nem em seus olhos oblíquos
e dissimulados de ressaca. Prefiro a
loucura de Rubião, o herdeiro de
Quincas Borba que descobriu o direito do vencedor às batatas.
Quanto à bossa nova, sem contestar sua importância e seu sucesso,
continuo achando que "Garota de
Ipanema", carro-chefe do movimento, é de uma chatice avassaladora, sobretudo em sua segunda
parte. De Tom, prefiro "Samba de
uma nota só", parceria com Newton
Mendonça, e "Lígia". Mas o melhor
produto da bossa nova, para meu
gosto pessoal, é "Maria Ninguém",
de Carlos Lyra, na versão cantada
por Brigitte Bardot.
Gosto também dos clássicos gravados por João Gilberto, como "Bolinha de papel", de Geraldo Pereira,
e "Pra machucar meu coração", de
Ary Barroso. Músicas anteriores ao
movimento, mas que se tornaram
novas na interpretação do cantor
baiano.
Detesto com todas as veras d'alma os diminutivos nas letras de Vinicius de Moraes: "Pois há menos
peixinhos a nadar no mar do que os
beijinhos que darei na sua boca".
Aqui, ô!
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