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Pequeno progresso
Investimento federal em relação ao PIB sobe desde 2006, mas gasto do governo ainda está longe de garantir crescimento sustentado
Em meio às dezenas de projetos
de bondades fiscais que tramitam
no Congresso e às generosas concessões de aumentos salariais nos
três Poderes, não deixa de ser auspicioso que o governo venha obtendo nos últimos anos algum
progresso em elevar os investimentos públicos federais.
Em 2006, eles representaram
apenas 0,75% do PIB. De lá para
cá, cresceram gradualmente, atingindo 1,1% do PIB em 2009. Nos 12
meses encerrados em maio de
2010, foram investidos R$ 42 bilhões, cifra equivalente a 1,25%
(de um total de R$ 46 bilhões para
o ano fechado). Para o Orçamento
de 2011, o governo prevê um montante de R$ 50 bilhões.
Essas cifras se referem à administração direta. Se forem incluídas as empresas estatais, o investimento torna-se mais substancial
-atingiu 3,3% do PIB em 2009. É
necessário ponderar entretanto
que a Petrobras é responsável por
cerca de 90% do valor adicional.
Não há dúvida de que o aumento nos investimentos federais é um
fato positivo, mas é preciso reconhecer que o Brasil ainda ocupa
os últimos lugares nos rankings
internacionais. Está muito atrás,
nesse quesito, de outros países em
desenvolvimento.
É bom lembrar que a falta de investimento público em infraestrutura tem efeito negativo sobre a
atividade privada, o que torna a situação mais desfavorável.
A despeito da estabilização da
economia e da maior disposição
das empresas a incorrer em riscos
de longo prazo, o investimento total ainda permanece abaixo de
20% do PIB. Alguns dos principais
países emergentes apresentam taxas superiores a 25% -ou até mesmo a 30% do PIB.
O fraco desempenho brasileiro
decorre de problemas conhecidos.
Em primeiro lugar, ainda há obstáculos ao engajamento efetivo do
setor privado em projetos de longo
prazo. Daí a importância de colaboração público-privada e, especialmente, de regras claras e estáveis que atraiam capital de risco,
nacional e internacional.
O país precisa incentivar a colaboração transparente entre as
duas esferas num ambiente regulatório estruturado e não ideológico. Não é o que se verifica. O que
parece avançar são relações calorosas de algumas empresas com o
governo, com vistas a obter acesso
privilegiado a recursos de bancos
federais e fundos de pensão.
Ao mesmo tempo, persiste o
problema da baixa poupança interna, decorrente em parte da
frouxidão com que se gere o orçamento público. Uma avaliação
dos projetos de lei em tramitação
no Congresso, voltados para demandas salariais do funcionalismo, indica a possibilidade de um
aumento de gastos de quase R$
300 bilhões entre 2011 e 2013.
Mesmo que apenas uma pequena fração seja aprovada, como,
aliás, se espera, já será suficiente
para afetar a capacidade de investimento da União.
Os desafios permanecem os
mesmos, portanto. Dotar o Estado
de maior capacidade de gestão de
longo prazo, conter seriamente o
custeio e regular com inteligência
os incentivos para o setor privado
investir são metas que precisam
ser perseguidas.
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