São Paulo, quinta-feira, 08 de agosto de 2002

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EM BOA HORA

Finalmente foi anunciado o acordo do governo brasileiro com o FMI, permitindo um financiamento adicional de US$ 30 bilhões, com desembolso em dois momentos. O programa, negociado no período de uma semana, confirma a mudança na postura da administração do presidente George W. Bush e das instituições multilaterais no financiamento dos países emergentes que enfrentam restrições temporárias de recursos em moeda forte.
O pacote chegou em boa hora. A restrição de crédito externo já estava atingindo grandes empresas privadas. A Eletropaulo Metropolitana, que distribui energia elétrica na cidade de São Paulo e em outros 23 municípios, não conseguiu rolar seus compromissos externos que vencem no fim do mês. Ela teve de apresentar uma proposta de reestruturação de títulos em eurobônus. Outras empresas, com elevado endividamento em dólar, poderiam seguir a mesma trajetória dada a aversão ao risco dos investidores estrangeiros.
O acordo com o Fundo garante mais US$ 6 bilhões ainda neste ano e reduz o piso das reservas, o que dá ao Banco Central o poder de gastar mais US$ 10 bilhões para garantir a liquidez no mercado de câmbio. O piso para o ajuste fiscal (3,75% do PIB) se mantém o mesmo até 2005.
O alvo do anúncio, tanto pelo seu "timing" como por suas cláusulas, é um só: estimular a retomada das linhas de crédito privadas ao Brasil. O acordo "dará certo" se, e somente se, for alterada a expectativa dos investidores internacionais sobre a economia brasileira. Não será um bom sinal, nesse sentido, se o Banco Central tiver de voltar a intervir pesadamente no mercado à vista do dólar- se o nível das reservas se aproximar do limite de US$ 5 bilhões.
O acordo com o Fundo -embora custoso para o nível de atividade, a renda e o emprego- pode ser uma ferramenta eficaz de transição. Para isso, precisa haver uma combinação entre um ambiente externo menos desfavorável (o que não depende apenas das expectativas em relação ao Brasil, mas também da trajetória da economia norte-americana) e uma condução macroeconômica atenta das autoridades brasileiras. Registre-se que a transição brasileira só se completará quando o país se mostrar capaz de produzir saldos comerciais volumosos e crescentes.
Ainda há riscos. Mas as perspectivas para o Brasil indubitavelmente melhoraram com o socorro do FMI.



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