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EM BOA HORA
Finalmente foi anunciado o
acordo do governo brasileiro
com o FMI, permitindo um financiamento adicional de US$ 30 bilhões,
com desembolso em dois momentos. O programa, negociado no período de uma semana, confirma a
mudança na postura da administração do presidente George W. Bush e
das instituições multilaterais no financiamento dos países emergentes
que enfrentam restrições temporárias de recursos em moeda forte.
O pacote chegou em boa hora. A
restrição de crédito externo já estava
atingindo grandes empresas privadas. A Eletropaulo Metropolitana,
que distribui energia elétrica na cidade de São Paulo e em outros 23 municípios, não conseguiu rolar seus
compromissos externos que vencem
no fim do mês. Ela teve de apresentar
uma proposta de reestruturação de
títulos em eurobônus. Outras empresas, com elevado endividamento
em dólar, poderiam seguir a mesma
trajetória dada a aversão ao risco dos
investidores estrangeiros.
O acordo com o Fundo garante
mais US$ 6 bilhões ainda neste ano e
reduz o piso das reservas, o que dá ao
Banco Central o poder de gastar mais
US$ 10 bilhões para garantir a liquidez no mercado de câmbio. O piso
para o ajuste fiscal (3,75% do PIB) se
mantém o mesmo até 2005.
O alvo do anúncio, tanto pelo seu
"timing" como por suas cláusulas, é
um só: estimular a retomada das linhas de crédito privadas ao Brasil. O
acordo "dará certo" se, e somente se,
for alterada a expectativa dos investidores internacionais sobre a economia brasileira. Não será um bom sinal, nesse sentido, se o Banco Central tiver de voltar a intervir pesadamente no mercado à vista do dólar-
se o nível das reservas se aproximar
do limite de US$ 5 bilhões.
O acordo com o Fundo -embora
custoso para o nível de atividade, a
renda e o emprego- pode ser uma
ferramenta eficaz de transição. Para
isso, precisa haver uma combinação
entre um ambiente externo menos
desfavorável (o que não depende
apenas das expectativas em relação
ao Brasil, mas também da trajetória
da economia norte-americana) e
uma condução macroeconômica
atenta das autoridades brasileiras.
Registre-se que a transição brasileira
só se completará quando o país se
mostrar capaz de produzir saldos comerciais volumosos e crescentes.
Ainda há riscos. Mas as perspectivas para o Brasil indubitavelmente
melhoraram com o socorro do FMI.
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