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OTAVIO FRIAS FILHO
De um palanque a outro
Ao verem os quatro candidatos perfilados, muitos eleitores podem
ter se perguntado sobre a razão de serem neste ano apenas quatro (além de
dois da extrema esquerda), quando
em outras eleições havia tantos. Esse
foi, talvez, o efeito positivo da "verticalização" imposta pelo TSE ao propiciar que o pleito para o cargo máximo
se organize em poucas tendências.
Em decisão de legitimidade discutível, o Tribunal determinou que os
partidos passam a ser obrigados, no
plano estadual, a repetir as alianças seladas no federal. Caso não as tenham,
ficam livres no âmbito dos Estados. E
que liberdade! À depuração da campanha presidencial correspondeu um
festival das mais esdrúxulas alianças
locais que já houve.
São dois os resultados. Valorizou-se
na prática o político de clientela, do
qual o exemplo mais notório, que pinçamos apenas a título de ilustração, é o
ziguezagueante Inocêncio de Oliveira
(PFL-PE). Como muitos de seus colegas, o deputado pernambucano não
conta com uma base eleitoral sensível
a valores como "coerência" -até porque ele é coerente.
Reflexo político de regiões de economia fraca, representantes como ele
precisam se conservar na vizinhança
do poder para que possam exercer a
função que na realidade lhes compete:
trocar apoio parlamentar por favores
do governo, prover emprego a cabos
eleitorais e benefícios a grupos de
apoio econômico local. Tudo muito
lógico, funcional e coerente...
Pensamos que esse fenômeno é sobretudo rural e arcaico, fadado a desaparecer, mas ele se reproduz nas periferias das grandes cidades, sertões urbanos onde se reúne uma massa anônima, carente de bens materiais e de
informação geral, para não dizer política. Tanto o movimento evangélico
como sua refração eleitoral, a candidatura Garotinho, pescam nessas
águas.
A outra consequência dessa balbúrdia estadual, em que desafetos da direita à esquerda se dão as mãos alegremente, é disponibilizar uma legião de
políticos atomizados, exército de reserva que corre de um palanque ao
outro conforme seu protagonista sobe
ou desce nas pesquisas. Já os vimos no
palanque de Roseana e até de Serra
antes de subirem no de Ciro.
Este montou a mais ampla coalizão
da galáxia, com criaturas de diversos
sistemas planetários, disposto a pagar
o preço que tem sido cobrado a todo
presidente brasileiro, pois a liberdade
individual concedida aos políticos impede que se forme uma maioria constante no Congresso. Antes e depois da
eleição, os apoios são negociados no
varejo.
Mas os presidentes não têm sido
tanto vítimas como cúmplices desse
processo, pois a volatilidade no Parlamento lhes dá, por sua vez, a liberdade
de pairar sobre os partidos governistas. A crer em seu programa, Ciro pretende sobrenadar essa sua coalizão de
contrários, fazendo apelo direto ao
povo, na forma de plebiscito, quando
o sistema emperrar.
É conhecida a tese de que plebiscitos, da mesma forma que eleições presidenciais, "aquecem" o ritmo da política, permitindo que intervenções da
opinião popular quebrem acordos entre "elites". É sabido também que o recurso é utilizado por presidentes que
desejam extrapolar suas atribuições.
Como se já não existissem suficientes
desconfianças a respeito.
Otavio Frias Filho escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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