São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Saneamento básico para todos

OLÍVIO DUTRA

A erradicação das carências em abastecimento de água, a ampliação das ações para que a população mais pobre deixe de conviver com esgotos sanitários a céu aberto e tenha acesso a serviços de tratamento de esgoto e a coleta, tratamento e disposição adequada dos resíduos sólidos é uma questão social e de saúde pública urgente.
Os esforços nessa área vão garantir boa qualidade de vida à população, com grande impacto principalmente na saúde das crianças, que são as principais vítimas de doenças transmitidas por água e esgoto mal tratados. Daí o empenho do Ministério das Cidades, criado pelo presidente Lula, em estabelecer uma política de liberação de recursos para que Estados e municípios possam promover mudanças significativas na área, de modo a universalizar o sistema de saneamento ambiental no país.
As parcerias celebradas entre os governos federal, estaduais e municipais, especialmente a partir do segundo semestre de 2003, estão garantindo ao país, neste momento, a aplicação de mais de R$ 4,268 bilhões em obras e serviços de saneamento ambiental.
Para dar uma idéia da dimensão desses investimentos, financiados pelo FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e pelo FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), vale lembrar que o país atravessou os últimos oito anos sem liberações significativas de investimentos para essa área. No período de 1995 a 2002, o volume de recursos emprestados pela União aos Estados e aos municípios para obras de saneamento foi inferior a R$ 3 bilhões. Em apenas 18 meses, o Ministério das Cidades já assegurou, aos Estados e aos municípios, recursos superiores em mais de 40% ao valor total dos contratos de financiamento firmados nos oito anos anteriores para obras e serviços de abastecimento de água, esgoto, drenagem urbana e manejo de lixo.
Comunidades pobres residentes em cidades de 20 Estados e do Distrito Federal estão sendo beneficiadas pela liberação de R$ 1,6 bilhão contratado no ano passado e de R$ 2,6 bilhões contratados apenas no primeiro semestre de 2004. Desse total, R$ 1,7 bilhão estão sendo investidos na região Sudeste, R$ 1,2 bilhão no Nordeste, R$ 527 milhões em cidades da região Sul, R$ 363 milhões no Centro-Oeste e R$ 349 milhões em cidades do Norte.
A aplicação desses recursos dos fundos públicos e de mais R$ 1,7 bilhão do Orçamento Geral da União deste ano no setor de saneamento ambiental traduz pelo menos três convicções do atual governo. A primeira é a de que constitui dever intransferível do Estado a tarefa de liderar o combate às deficiências em saneamento, que punem perversamente e em escala nacional as populações de baixa renda. A segunda é a de que esse combate pela saúde pública exige ação articulada, integrada e solidária das três esferas da Federação (municípios, Estados e União). A terceira é a de que as obras e serviços do setor contribuem significativamente para impulsionar a atividade econômica e gerar empregos.


Constitui dever intransferível do Estado a tarefa de liderar o combate às deficiências em saneamento
Essas convicções levaram o presidente Lula, no ano passado, a desbloquear o acesso das prefeituras e dos governos estaduais aos recursos dos fundos públicos administrados pela União para obras e serviços de saneamento. Inspiraram também o aumento das dotações orçamentárias do governo federal para o setor e orientaram a elaboração, coordenada pelo Ministério das Cidades, da proposta de Política Nacional de Saneamento Ambiental, incluído o marco regulatório, que o governo encaminhará ao Congresso Nacional.
Produzido para dotar o país de instrumentos legais que amparem e estimulem ações de combate às deficiências de saneamento, o anteprojeto de Política Nacional de Saneamento Ambiental, que vem sendo apresentado e debatido com os vários setores envolvidos na questão, pretende essencialmente favorecer a integração de esforços e de recursos dos diversos níveis do setor público, bem como disciplinar a participação do setor privado, rumo à erradicação das carências em abastecimento de água e esgoto, de modo especial.
O governo federal formulou uma proposta de política que respeita a Constituição, mantendo a competência dos municípios para organizar, planejar e prestar os serviços de saneamento. Essa proposta resgata o planejamento como ferramenta fundamental para as ações de saneamento, reconhece os direitos dos usuários previstos na Constituição federal, estimula a formação de instituições intermunicipais, incentiva os Estados a criarem legislação que promova a integração dos serviços, define prazos para a transição, regulamenta o uso dos subsídios cruzados, respeita os contratos em vigor, define regras para a indenização dos ativos não-amortizados e regulamenta a gestão e a prestação dos serviços, independentemente de quem seja o prestador, se público ou privado.
Todas essas propostas buscam criar condições para garantir o acesso à água potável de qualidade e em quantidade suficiente e a vida em ambiente salubre, sob os princípios básicos da universalidade, integralidade, eqüidade e respeito aos usuários, privilegiando o interesse público e em condições compatíveis com a realidade econômica do país e da população.

Olívio Dutra, 63, é ministro de Estado das Cidades. Foi prefeito de Porto Alegre (1989-92) e governador do Rio Grande do Sul (1999-2002), pelo PT.


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