São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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PAINEL DO LEITOR

Humilhante
"Acintosa, humilhante e repugnante. É o mínimo que pode ser dito a respeito da imagem publicada por esta Folha no alto da página C5 (Cotidiano) na sexta-feira passada. Na imagem, seis detentos da Penitenciária de Araraquara (SP) apresentam a nova vestimenta a ser utilizada em cárcere pelos reclusos. Amarela, em um tom ostensivamente feio, a roupa, segundo a opinião "do Estado", traz uma cor "mais viva e alegre". Os modelos-detentos, todos cabisbaixos, humilhados, tinham às costas várias autoridades engravatadas em ternos em tom neutro. Sugiro que os ternos do primeiro escalão do governo de Geraldo Alckmin também sejam adaptados à nova política de cores das carceragens estaduais de São Paulo, ao menos até que se perceba, também entre as referidas autoridades, que a pena imposta ao detento é de cerceamento do direito à liberdade, e não a obrigatoriedade a se prestar à humilhação pública."
Daniel Henrique Diniz Barbosa (Belo Horizonte, MG)

Deficientes
"O autor do editorial "Perdem os deficientes" (Opinião, pág. A2, 6/8) foi muito feliz ao retratar o descaso da Prefeitura de São Paulo com as necessárias adaptações que as empresas de ônibus e microônibus deveriam fazer nas 977 linhas do sistema de transporte municipal. Mas seria bom se o descaso ficasse restrito apenas a esse assunto. Infelizmente não somos tratados com nenhuma dignidade, nem em São Paulo, nem em outras cidades do país. É bom que se diga que, segundo a OMS -Organização Mundial da Saúde-, mais de 10% da população brasileira sofre de algum tipo de deficiência. Vários outros países que têm populações bem menores, e portanto menos pessoas portadoras de deficiência, dispõem de cuidados para dar a todos os cidadãos os mesmos direitos. Nem mesmo a nossa Constituição é atendida, pois não temos garantido o nosso "direito de ir e vir". Somos impedidos pelas sarjetas, pelas guias, pelas escadarias etc. etc. Não nos respeitam e, portanto, ficamos sujeitos a favores. Os deficientes perdem sempre. As autoridades precisam acordar e ver que nós também temos direito a voto e que também temos familiares, que saberão distinguir "o joio do trigo"."
Jefferson Eduardo Patriota dos Santos, presidente da Associação dos Policiais Militares Deficientes Físicos do Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

Dívida
"Ainda que muitos reclamem do presidente Lula, e não sem razão, a pergunta que fica no ar é: quem poderia ser melhor (ou fazer mais) do que ele no momento atual? A nossa indecente dívida externa (e a interna também) não foi Lula quem contraiu. Só os juros que pagamos representam uma aberração. Como sair desse "buraco negro", que devora uma imensa parcela do nosso PIB? Falam em moratória, mas, com ela, não conseguiríamos novos empréstimos. E com esses juros escorchantes, nunca será possível sairmos da crise. Já a dívida interna só poderá diminuir com o enxugamento da parte administrativa do governo. Menos cabide de empregos, menos ministérios descartáveis."
Conrado de Paulo (Bragança Paulista, SP)

Sem acreditar
"Não dá para acreditar! É de arrepiar! Primeiro querem amordaçar o Ministério Público, depois querem controlar o cinema e as produções afins e, por último, calar o único meio que o povo tem para se informar sobre os atos do governo: a imprensa. Está na hora de perguntar: o que é isso, companheiros?"
Leila E. Leitão (São Paulo, SP)


"Em vez de honrar as promessas de campanha e o estatuto do PT e de promover o real crescimento do país, o governo do PT parece ter como norma atribuir todos os problemas brasileiros à "herança maldita" dos anos FHC e inventar medidas que desviem a atenção do verdadeiro cerne das principais questões brasileiras. Agora, através do Ministério do Trabalho, o presidente Lula pretende instituir um conselho para fiscalizar o exercício do jornalismo no Brasil. Depois de ter expulsado o jornalista Larry Rohter e ter tido de voltar atrás, pensava-se que, pelo menos no que diz respeito à liberdade de imprensa, eles tivessem aprendido alguma coisa. O exercício do jornalismo é regulado por uma única diretriz, qual seja, a busca da verdade dos fatos, e não a publicação de notícias que agradem a fulano ou a beltrano. E é o próprio mercado e sua competição que regulam o exercício da profissão. A liberdade de imprensa é um dos requisitos básicos e um dos pilares de qualquer democracia. Que critérios, além dos subjetivos e dos corporativos, teriam os integrantes do tal conselho para "orientar, disciplinar e julgar" o jornalismo brasileiro? Que tal criarem um "house-organ" do Palácio do Planalto, entregá-lo a Duda Mendonça e deixarem os meios de comunicação brasileiros trabalharem em paz? Nem mesmo todas as dificuldades financeiras enfrentadas atualmente pelos veículos brasileiros, como é de domínio público, podem justificar tamanho disparate."
Adriana B. Leite e Santos (Macaé, RJ)

Eleições
"O governador Geraldo Alckmin vem repetindo insistentemente que não utilizará a máquina do governo estadual em favor do candidato de seu partido à Prefeitura de São Paulo. Então como explicar a veiculação de propaganda do governo do Estado de São Paulo nos intervalos do debate promovido pela Bandeirantes? Terá sido mera coincidência?"
Bento Messias Carvalho de Abreu (São Paulo, SP)

Diplomacia presidencial
"A atividade diplomática que o presidente da República vem desenvolvendo traz sérios riscos de trazer resultados adversos. Afirmar, como o fez na viagem à África, que a hipocrisia dos ricos e as injustas regras do comércio internacional são as causadoras da pobreza e da miséria de boa parte da humanidade tem um cunho populista que vai bem na política interna, mas nas relações internacionais pode esconder um custo elevado. No mesmo diapasão, diante de uma assembléia de investidores, o presidente exortou semanas atrás, usando como referência a Guerra do Vietnã, que nossos negociadores sejam mais duros com os americanos, a exemplo do espírito combativo dos vietnamitas. Nosso presidente ignora que aquele conflito ainda causa muita dor e sentimentos de humilhação e vergonha aos americanos, que nele perderam perto de 55 mil soldados. Em outra tirada infeliz, propôs a criação de um sistema geral de preferências entre os países em desenvolvimento, ignorando que aquele sistema foi conquistado após longas e penosas negociações na Unctad, que finalmente conseguiram conseguir arrancar dos países do Primeiro Mundo concessões tarifárias para tornar o comércio internacional em instrumento mais eficaz ao desenvolvimento dos países subdesenvolvidos. Em matéria de relações internacionais, ações estão sujeitas a reações contrárias. Vejamos: ameaça americana de excluir o Brasil do sistema de preferências caso não dermos um fim à pirataria de produtos num prazo de 90 dias; imposição de uma taxa aduaneira de 67% sobre o camarão brasileiro; dificuldades crescentes nas negociações da Alca. Diplomacia presidencial exige um elevado grau de percepção do correlacionamento entre posturas agressivas e suas conseqüências visíveis e muitas vezes pouco visíveis."
Edmundo Radwanski, embaixador aposentado (Rio de Janeiro, RJ)


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