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ELIANE CANTANHÊDE
Debate sem debate
BRASÍLIA - José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva deveriam acender uma vela à TV Globo, que transmitiu a emocionante semifinal da
Copa Libertadores no mesmo horário do insosso primeiro debate dos
presidenciáveis na Band. O jogo teve 32 pontos no Ibope, enquanto o
debate ficou em míseros 2,9. Sorte
dos debatedores.
Entre mortos e feridos, ninguém
se salvou -a exceção foi Plínio de
Arruda Sampaio, porque investiu
bem e tudo o que viesse seria lucro.
Ele estava visivelmente se divertindo, enquanto os outros mal conseguiam se mover dentro do gesso imposto por pesquisas, marqueteiros,
conveniências.
Serra ficou divagando sobre programinhas e não provocou o confronto. Dilma estreou a arriscada
estratégia de se livrar da sombra de
Lula e ganhar contornos próprios.
Marina foi Marina, comovente ao
falar da própria biografia, mas não
convincente para governar o país.
Naquele trio, ninguém tinha a ganhar com ibope alto, a não ser constrangimento.O fiasco de público escamoteou o fiasco de desempenho.
Mas, se ninguém ganhou, alguém ganhou. Explica-se: o empate técnico cristaliza a eleição como
está. É ruim para Serra e Marina,
mas é bom para Dilma. Eles precisam fazer gol. Ela só precisa não levar. O time e o tempo a mais de propaganda gratuita fazem o resto.
A comparação mais gritante foi
com o charme intelectual de Fernando Henrique, o carisma e empatia de Lula e o talento de Mário Covas -que, numa pernada, desestabilizou a ascensão de Guilherme
Afif Domingos em 1989. Nenhum
dos dois nem chegou ao segundo
turno, é verdade, mas Covas entrou
para a história dos debates.
Sem FHC, sem Lula, sem tipos
como Covas e sem confronto de
ideias e de qualificação, para quê
debate? Mais valem os 50 segundos
diários no "Jornal Nacional" do que
mil debates sem debate.
elianec@uol.com.br
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