São Paulo, segunda-feira, 08 de setembro de 2008

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Só dá Lula

SÃO PAULO - A menos de um mês das eleições, o que até agora as campanhas municipais mais evidenciam é a popularidade de Lula, que alcança patamar espantoso mesmo em São Paulo, cidade que sempre lhe foi hostil e na qual em 2006, para ficar só no passado recente, foi derrotado por Alckmin (54,4% a 45,6%), apesar da vitória acachapante em âmbito nacional (de 22 pontos). Pois Lula tem agora 52% de aprovação na capital, contra 42% de José Serra, diz o Datafolha.
Tome-se o país afora. Os candidatos a prefeito da base governista lideram em 20 das 26 capitais. A se confirmar a tendência nas urnas, muito do êxito terá de ser creditado às faíscas reluzentes do lulismo.
Pipocam aos montes na TV candidatos de nome "Lula" que não nasceram Luiz; outros tantos imitam a voz do presidente no rádio, encenando o apoio que gostariam de receber. Mesmo a oposição entrou na onda: no Nordeste, postulantes do PSDB e do DEM proíbem que seus aliados critiquem Lula porque atrapalha; vários deles chegam a disputar sua proximidade.
A eleição ilumina um fenômeno que a ultrapassa. A vida de muita gente melhorou, é fato. A mitigação da miséria obtida com os programas de transferência de renda e a elevação do consumo na faixa social que a propaganda oficial se apressa em chamar de "nova classe média" são o pau que sustenta a lona do circo onde se anuncia o céu estrelado. Os ricos também nunca ganharam tanto. A fera barbada de 89 se transformou no domador do espetáculo.
Para além da economia, que explica muita coisa, Lula é hoje um fator de pacificação social. Alguém diria que é capaz de tirar as meias sem tirar os sapatos. Descomprimiu um imenso passivo de iniqüidades sem mexer com os poderosos. Pelo contrário, faz um governo concessivo, que se serve sem pudor das forças do atraso e conduz seu barco nas águas do conservadorismo.
Lula é nosso esperanto social, a encarnação do "&" que conecta e separa Casa Grande e Senzala. Ele é a expressão máxima da democracia brasileira. E talvez de seus limites.


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