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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Só dá Lula
SÃO PAULO - A menos de um mês
das eleições, o que até agora as campanhas municipais mais evidenciam é a popularidade de Lula, que
alcança patamar espantoso mesmo
em São Paulo, cidade que sempre
lhe foi hostil e na qual em 2006, para ficar só no passado recente, foi
derrotado por Alckmin (54,4% a
45,6%), apesar da vitória acachapante em âmbito nacional (de 22
pontos). Pois Lula tem agora 52%
de aprovação na capital, contra 42%
de José Serra, diz o Datafolha.
Tome-se o país afora. Os candidatos a prefeito da base governista lideram em 20 das 26 capitais. A se
confirmar a tendência nas urnas,
muito do êxito terá de ser creditado
às faíscas reluzentes do lulismo.
Pipocam aos montes na TV candidatos de nome "Lula" que não
nasceram Luiz; outros tantos imitam a voz do presidente no rádio,
encenando o apoio que gostariam
de receber. Mesmo a oposição entrou na onda: no Nordeste, postulantes do PSDB e do DEM proíbem
que seus aliados critiquem Lula
porque atrapalha; vários deles chegam a disputar sua proximidade.
A eleição ilumina um fenômeno
que a ultrapassa. A vida de muita
gente melhorou, é fato. A mitigação
da miséria obtida com os programas de transferência de renda e a
elevação do consumo na faixa social
que a propaganda oficial se apressa
em chamar de "nova classe média"
são o pau que sustenta a lona do circo onde se anuncia o céu estrelado.
Os ricos também nunca ganharam
tanto. A fera barbada de 89 se transformou no domador do espetáculo.
Para além da economia, que explica muita coisa, Lula é hoje um fator de pacificação social. Alguém diria que é capaz de tirar as meias sem
tirar os sapatos. Descomprimiu um
imenso passivo de iniqüidades sem
mexer com os poderosos. Pelo contrário, faz um governo concessivo,
que se serve sem pudor das forças
do atraso e conduz seu barco nas
águas do conservadorismo.
Lula é nosso esperanto social, a
encarnação do "&" que conecta e
separa Casa Grande e Senzala. Ele é
a expressão máxima da democracia
brasileira. E talvez de seus limites.
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