São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2011

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Editoriais

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O tráfico ataca

A tentativa do narcotráfico de retomar o controle do complexo de favelas do Alemão, na zona norte do Rio, ajuda a colocar em termos mais realistas a imagem de comunidades "pacificadas".
Avanços obtidos com a expulsão dos cartéis em novembro de 2010 estão agora sob ameaça. Cabe ao Exército a delicada tarefa de repelir a afronta dos criminosos, com o uso da força necessária, sem colocar em risco os moradores daquela região.
Coincidência ou não, o confronto surge logo após a notícia de que a ocupação do Exército no Alemão seria prorrogada por mais oito meses, até junho do ano que vem. Desde domingo, registravam-se desavenças entre militares e moradores. A tentativa de invasão do tráfico lança a suspeita de que aqueles primeiros atritos tenham sido atiçados pelo crime.
O emprego das Forças Armadas para a retomada do Alemão se justificou no final do ano passado, quando foi necessária uma operação de guerra contra os criminosos. A presença dos militares depois disso, porém, foi uma solução improvisada e, quanto mais longa, mais perigosa.
A permanência prolongada aumenta os riscos de cooptação de militares pelo narcotráfico e de abuso contra moradores. O Exército é uma instituição moldada para a guerra que precisa manter-se incólume à penetração do crime organizado. O exemplo da Colômbia, onde o longo uso das Forças Armadas contra cartéis da droga favoreceu a corrupção de militares, deveria ser suficiente para impedir esse tipo de exposição aqui.
No caso do Alemão, a ocupação emergencial escapou ao cronograma do governo estadual, que não conseguiu ultimá-la com a implantação de uma Unidade de Polícia Pacificadora. O treinamento de 2.000 novos guardas da UPP não terminou, e o Exército ficou.
Haveria, contudo, uma solução intermediária, para ao menos abreviar a presença dos militares: acionar a Força Nacional de Segurança Pública. O problema é que esse contingente, criado em 2004, não se tornou uma força volumosa e perene. Vive de efetivos emprestados de governos estaduais, cujo deslocamento, que deveria ser imediato, está sujeito a delongas e negociações políticas.
Passada a fase crítica deste enfrentamento, o governo do Rio deveria rever a decisão de prorrogar para a longínqua metade de 2012 a instalação da UPP no Alemão -e a imperiosa saída dos militares.


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