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CARLOS HEITOR CONY
Anjos e demônios
RIO DE JANEIRO - A busca de
apoios para o segundo turno vem
demonstrando que a ética (uma expressão-bonde que comporta diversas variantes) está sendo a tônica dos candidatos que fizeram da
moralidade o diferencial de suas
campanhas. Temos o caso da Denise Frossard, que desaprova seu candidato inicial (Alckmin) por causa
do apoio de Garotinho, um apoio
que não pode ser recusado.
O cenário ético montado após os
escândalos do PT demonizou diversos personagens de nossa vida pública. No limite, o candidato ético,
ou pretensamente ético, deveria
pedir folha corrida e atestado de
bons antecedentes a todos os eleitores que o apóiam. Razão de sobra
teve FHC ao perguntar se Lula recusaria o apoio de Collor.
A ética tem uma prima pobre que
se chama hipocrisia. Por fora, a bela
viola repudia o pão bolorento. Proclama-se em altos brados o desprezo pelo apoio da "perdutta gente"
que habita o inferno criado por
Dante. Nos bastidores, sabemos
que há uma briga de foice pelos
apoios, que, no fundo, voto é voto,
sejam eles imaculados, como pretende a Denise Frossard, ou maculados pelas denúncias e suspeitas
que cercam determinados personagens da vida pública nacional.
Lembro uma frase de Churchill
durante a Segunda Guerra Mundial: "Se o demônio for contra Hitler, eu me aliarei ao demônio". Era
fácil então localizar o mal absoluto
num único personagem. Em tempos de paz, a classificação de bom e
de mau fica embaralhada, e cada lado tem o direito de escolher o seu
demônio particular.
Tenho um amigo mineiro que jogou fora a sua estrela do PT que usava na lapela ao saber que Lula se
uniria a Newton Cardoso, outro satanizado da política nacional.
Não faltam demônios e há anjos
demais para todos os gostos.
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