São Paulo, quarta-feira, 08 de outubro de 2008

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Editoriais

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Inércia municipal

O CONTINUÍSMO , até exacerbado, caracterizou também a eleição para os vereadores paulistanos. Enquanto na média das capitais houve 51% de renovação nas Câmaras Municipais, o Legislativo da maior cidade do país contará com meros 16 vereadores novos num total de 55 -taxa de reciclagem historicamente baixa de 29%.
Em 2000, ao cabo do governo Celso Pitta e no rescaldo da investigação sobre a máfia dos fiscais, que levou à prisão de três vereadores e à condenação de outros dois, o indicador chegou a 51%. Na década de 1980, batia em 70%. Sem escândalos rumorosos como estímulo, houve notória recaída no voto paroquial, ou movido a celebridade.
São nove os vereadores eleitos com vínculos religiosos. Há quatro cantores, quatro sindicalistas e três ligados a esportes. Na outra ponta, que mereceria mais propriamente ser chamada de representação política, há seis líderes comunitários.
As microbancadas setoriais, porém, não rivalizam com o núcleo de gravidade da Câmara. O "centrão" -uma disparatada confraria de duas dezenas de vereadores de sete partidos (PR, PV, PTB, DEM, PP, PSB e PMDB)- controla as votações de projetos, em geral inócuos, e trocou de vez qualquer prurido programático pela fisiologia.
Essa configuração, que sobreviveu na eleição de domingo, tende a manter a Câmara atrelada à prefeitura, como uma espécie de guichê de trocas em que o Executivo oferece favores ao Legislativo para emplacar projetos de seu interesse. No restante do tempo, votam-se ali, em geral, matérias de escassa ou nula importância, como nomes de logradouros e dias disso e daquilo.
Resta a esperança de que a pressão da opinião pública leve a uma mudança de atitude na Câmara, que precisa ganhar autonomia e capacidade de fiscalizar os atos do prefeito.


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