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De novo o MST
Invasões atendem menos
a demanda social e mais a
conveniências de uma
cúpula profissional que
busca manter influência
MILHARES de pés de
laranja destruídos;
dezenas de tratores
inutilizados, com os
motores fundidos; banheiros
com louças quebradas; comida
estragada espalhada por cômodos das casas; pichações com iniciais do grupo -M.S.T.- sobre
instalações e paredes da propriedade. Eis o saldo preliminar de
mais uma ação criminosa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, desta vez numa
fazenda da Cutrale, a maior exportadora de suco de laranja do
mundo, no interior paulista.
O Estado continua a sustentar
grupos que promovem destruições desse tipo. Verbas oficiais,
como as que dão margem à cobrança de "dízimos" -desviados
de repasses do erário a assentados-, e o abrigo de militantes em
postos que decidem a destinação
desses recursos alimentam o circuito do ativismo predatório.
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, está certo ao
cobrar do governo a que pertence uma atitude contra esse tipo
de vandalismo. Não é muito exigir a aplicação da lei vigente.
Mesmo burocratas historicamente simpáticos à pauta do
MST, caso do ministro Guilherme Cassel, do Desenvolvimento
Agrário, e do presidente do Incra, Rolf Hackbart, haviam condenado a ação contra a Cutrale
-"injustificável e grotesca", segundo o primeiro.
Não há nenhuma virtude no
gesto de um servidor público que
se põe do lado da legalidade. À
luz do histórico de ambiguidade
retórica e leniência prática deste
governo diante dos abusos dos
sem-terra, porém, a reação dos
subordinados de Lula é mais um
sintoma do isolamento do MST.
Sabe-se há tempos que o moto-contínuo das invasões atende cada vez menos a uma demanda social e mais à conveniência de
uma cúpula de dirigentes, profissionalizada e autoritária, e da pequena massa de manobra sob seu
comando.
O Bolsa Família e o crescimento econômico desidrataram a base social que esteve, nas chamadas décadas perdidas, mais ou
menos à mercê do proselitismo
do MST. O governo atraiu para
dentro da máquina pública parte
das lideranças sem-terra e seus
simpatizantes, enfraquecendo a
capacidade de reivindicação do
movimento. A combinação de
mercado de trabalho em alta,
colchão social e cooptação política esvaziou o MST.
Além dos métodos ilegais do
grupo, o anacronismo de seus
objetivos fica mais flagrante
quando confrontado com os sinais de pujança do agronegócio,
que se modernizou muito nos últimos anos e impulsiona o crescimento da produção e do emprego no país.
Numa democracia, avanços sociais e institucionais devem caminhar juntos. Sob o pretexto de
que não se deve criminalizar o
movimento social, ouvido amiúde em setores do governo Lula,
as autoridades foram até aqui tolerante demais com delitos recorrentes contra o patrimônio
público e privado. Passa da hora
de corrigir essa conduta.
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