São Paulo, quinta-feira, 08 de outubro de 2009

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Editoriais

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De novo o MST

Invasões atendem menos a demanda social e mais a conveniências de uma cúpula profissional que busca manter influência

MILHARES de pés de laranja destruídos; dezenas de tratores inutilizados, com os motores fundidos; banheiros com louças quebradas; comida estragada espalhada por cômodos das casas; pichações com iniciais do grupo -M.S.T.- sobre instalações e paredes da propriedade. Eis o saldo preliminar de mais uma ação criminosa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, desta vez numa fazenda da Cutrale, a maior exportadora de suco de laranja do mundo, no interior paulista.
O Estado continua a sustentar grupos que promovem destruições desse tipo. Verbas oficiais, como as que dão margem à cobrança de "dízimos" -desviados de repasses do erário a assentados-, e o abrigo de militantes em postos que decidem a destinação desses recursos alimentam o circuito do ativismo predatório.
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, está certo ao cobrar do governo a que pertence uma atitude contra esse tipo de vandalismo. Não é muito exigir a aplicação da lei vigente. Mesmo burocratas historicamente simpáticos à pauta do MST, caso do ministro Guilherme Cassel, do Desenvolvimento Agrário, e do presidente do Incra, Rolf Hackbart, haviam condenado a ação contra a Cutrale -"injustificável e grotesca", segundo o primeiro.
Não há nenhuma virtude no gesto de um servidor público que se põe do lado da legalidade. À luz do histórico de ambiguidade retórica e leniência prática deste governo diante dos abusos dos sem-terra, porém, a reação dos subordinados de Lula é mais um sintoma do isolamento do MST.
Sabe-se há tempos que o moto-contínuo das invasões atende cada vez menos a uma demanda social e mais à conveniência de uma cúpula de dirigentes, profissionalizada e autoritária, e da pequena massa de manobra sob seu comando.
O Bolsa Família e o crescimento econômico desidrataram a base social que esteve, nas chamadas décadas perdidas, mais ou menos à mercê do proselitismo do MST. O governo atraiu para dentro da máquina pública parte das lideranças sem-terra e seus simpatizantes, enfraquecendo a capacidade de reivindicação do movimento. A combinação de mercado de trabalho em alta, colchão social e cooptação política esvaziou o MST.
Além dos métodos ilegais do grupo, o anacronismo de seus objetivos fica mais flagrante quando confrontado com os sinais de pujança do agronegócio, que se modernizou muito nos últimos anos e impulsiona o crescimento da produção e do emprego no país.
Numa democracia, avanços sociais e institucionais devem caminhar juntos. Sob o pretexto de que não se deve criminalizar o movimento social, ouvido amiúde em setores do governo Lula, as autoridades foram até aqui tolerante demais com delitos recorrentes contra o patrimônio público e privado. Passa da hora de corrigir essa conduta.


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