São Paulo, Segunda-feira, 08 de Novembro de 1999
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GLOBALISMO, APOGEU E QUEDA

Nada garante que dez anos sejam suficientes para avaliar, em todas as suas extensões, os efeitos do fim da Guerra Fria. Desde a queda do Muro de Berlim, do ponto de vista econômico, a mudança em escala global se acelerou a tal ponto que a experiência desses dez anos passados ao menos obriga a uma séria reavaliação de perspectivas. Em primeiro lugar, já se acumularam evidências convincentes de que houve uma euforia despropositada com a vitória liberal.
De um lado, acreditou-se ingenuamente que a liberação das forças de mercado teria virtudes que por si mesmas garantiriam uma nova fase de prosperidade ao sistema econômico mundial. De outro, apostou-se de modo irresponsável, em muitos dos ex-países socialistas, em especial na Rússia, numa transição acelerada a uma economia capitalista.
Hoje ganha mais força avaliação mais contida das virtudes da liberalização de mercado, que assumiu tons mais intensos no sistema financeiro, mas que empolgou a maioria dos países pobres, que adotaram políticas de liberalização acelerada. As crises financeiras e de crescimento na Ásia e na América Latina, nos anos 90, mostraram que os governos menosprezaram os custos sociais e as dificuldades institucionais decorrentes de uma liberalização precipitada.
Sobre os países do Leste Europeu, em destaque a Rússia, as lições foram duramente aprendidas na prática, na medida em que as máfias passavam a controlar os sistemas econômicos tão rápida e profundamente quanto se desmontava o Estado remanescente do regime socialista. A crença nas virtudes progressistas e unificadoras da liberalização dos mercados ganhou um nome, que para alguns chegou até mesmo a ter força de doutrina: globalização. Houve um grande beneficiado: os EUA.
Dez anos depois da queda do muro, esse globalismo ingênuo já teve seu apogeu e sua queda. Resta ainda o desafio de construir um sistema global mais justo que, sem a polaridade da Guerra Fria, abra espaço para modelos alternativos de desenvolvimento econômico e organização social.


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