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GLOBALISMO, APOGEU E QUEDA
Nada garante que dez anos sejam
suficientes para avaliar, em todas as
suas extensões, os efeitos do fim da
Guerra Fria. Desde a queda do Muro
de Berlim, do ponto de vista econômico, a mudança em escala global se
acelerou a tal ponto que a experiência
desses dez anos passados ao menos
obriga a uma séria reavaliação de
perspectivas. Em primeiro lugar, já se
acumularam evidências convincentes de que houve uma euforia despropositada com a vitória liberal.
De um lado, acreditou-se ingenuamente que a liberação das forças de
mercado teria virtudes que por si
mesmas garantiriam uma nova fase
de prosperidade ao sistema econômico mundial. De outro, apostou-se
de modo irresponsável, em muitos
dos ex-países socialistas, em especial
na Rússia, numa transição acelerada
a uma economia capitalista.
Hoje ganha mais força avaliação
mais contida das virtudes da liberalização de mercado, que assumiu tons
mais intensos no sistema financeiro,
mas que empolgou a maioria dos
países pobres, que adotaram políticas de liberalização acelerada. As crises financeiras e de crescimento na
Ásia e na América Latina, nos anos
90, mostraram que os governos menosprezaram os custos sociais e as
dificuldades institucionais decorrentes de uma liberalização precipitada.
Sobre os países do Leste Europeu,
em destaque a Rússia, as lições foram duramente aprendidas na prática, na medida em que as máfias passavam a controlar os sistemas econômicos tão rápida e profundamente
quanto se desmontava o Estado remanescente do regime socialista. A
crença nas virtudes progressistas e
unificadoras da liberalização dos
mercados ganhou um nome, que para alguns chegou até mesmo a ter força de doutrina: globalização. Houve
um grande beneficiado: os EUA.
Dez anos depois da queda do muro,
esse globalismo ingênuo já teve seu
apogeu e sua queda. Resta ainda o
desafio de construir um sistema global mais justo que, sem a polaridade
da Guerra Fria, abra espaço para modelos alternativos de desenvolvimento econômico e organização social.
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