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ABORTO PARCIAL
Os conservadores norte-americanos obtiveram sua
maior vitória na campanha contra o
aborto nos últimos 30 anos. O presidente George W. Bush sancionou a
lei que proíbe um procedimento médico chamado de aborto por dilatação e extração, ou aborto por ECI (esvaziamento craniano intra-uterino).
O aborto por ECI, que os críticos
chamam de aborto com nascimento
parcial, é uma técnica quase exclusivamente utilizada para interromper a
gravidez avançada (entre 20 e 26 semanas) e que represente grande risco para a mãe. Suas indicações mais
comuns são: morte do feto, risco de
morte para a mãe, risco para a saúde
da mãe e más formações fetais que
inviabilizem a vida extra-uterina.
Em casos como esses, o aborto por
ECI não é a única opção à disposição
do médico, mas pode ser a mais segura. A alternativa geralmente passa
por uma histerotomia (incisão no
útero para a retirada do feto), que é
uma cirurgia de médio porte, com
todos os riscos correspondentes.
O presidente Bill Clinton já havia
vetado duas iniciativas semelhantes
por entender que elas eram inconstitucionais, ao não prever exceções
que protegessem a saúde da mãe. É
preciso esperar agora para ver o que
as cortes vão dizer do novo diploma.
Já surgem decisões contrárias à lei.
Em termos estritamente médicos,
não haveria razão para limitar o arsenal de procedimentos disponíveis
apenas porque a descrição do aborto
por ECI parece especialmente cruenta ao leigo. Só que a questão do aborto nos EUA não é técnica, mas política. O tamanho do retrocesso fica claro na comparação com a antiquada
lei brasileira, na qual um aborto por
ECI com vistas a preservar a saúde da
mãe seria permitido.
A questão quase certamente chegará à Suprema Corte norte-americana,
que 30 anos atrás definiu o aborto como direito constitucional. Só que,
em sua atual composição, a corte parece mais conservadora do que há
três décadas. E o plano dos conservadores é justamente preparar o terreno para que a Suprema Corte reverta
o direito ao aborto.
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