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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Política indigenista
O Fórum Social Brasileiro, de 6 a 9
deste mês, em Belo Horizonte,
lança a temática: "Um outro mundo é
possível; um outro Brasil é necessário". Insere-se na sequência do 3º Fórum Social Mundial, que levou a Porto
Alegre cerca de 100 mil cidadãos de
5.517 organizações e 156 países, desejando contribuir para uma nova etapa
da história: a globalização solidária e
pacífica que respeite os direitos humanos universais, apoiada em instituições internacionais democráticas, a
serviço da justiça social, da igualdade e
da soberania dos povos.
A presença dos povos indígenas foi
marcante em Porto Alegre e expressou-se em documento que reafirma e
completa as 18 propostas apresentadas em 2002 para a construção de um
mundo com respeito à diferença e à
paz e sem violência e impunidade.
Os povos indígenas colocam como
fundamento de suas justas reivindicações o estabelecimento de uma forma
de relação com os Estados e seus governos para que se definam modos de
coexistência apoiados no respeito à livre determinação, à diversidade social, cultural, espiritual, linguística e de
ordenamento jurídico, territorial e organizativo entre as nações indígenas e
entre estas e os Estados. Segue-se o reconhecimento dos direitos coletivos: a
territorialidade, a autonomia e o direito à educação, à saúde e à infra-estrutura para a comunidade.
As propostas do 3º Fórum voltam a
insistir na questão básica: "Que os países do mundo reconheçam e respeitem os espaços territoriais dos indígenas indispensáveis à sua sobrevivência física, social e cultural, segundo
suas tradições e costumes. Isso inclui
leis adequadas, a reparação dos danos
causados, a apuração dos crimes e o
combate à violência e à impunidade".
De 3 a 5 deste mês, por ocasião do
Fórum Social Brasileiro, reuniram-se,
em Belo Horizonte, a diretoria do
Conselho Indigenista Missionário, organismo ligado à CNBB que elaborou
ampla análise da política atual do nosso governo sobre os povos indígenas.
O tema faz parte de um dos painéis do
Fórum e dá elementos para uma nova
política indigenista no Brasil.
O documento do Cimi recorda a esperança depositada no atual governo
e os compromissos assumidos na
campanha de resgatar a dívida social
do país com os povos indígenas, realizando as homologações de terras proteladas por governos anteriores e conduzindo uma política que garanta os
direitos desses povos. O texto questiona com firmeza a não-demarcação de
terras indígenas e o crescimento assustador da violência, que, em dez
meses, causou a morte de 23 líderes
índios. Insiste na criação do Conselho
Superior de Pastoral Indigenista e na
realização de uma conferência sobre
essa política com participação decisiva dos índios. O texto refere-se às
agressões de grupos políticos e econômicos, à violência, à impunidade e à
morosidade em implementar os direitos constitucionais dos indígenas.
Há 500 anos, os índios somavam no
Brasil mais de 5 milhões. Foram reduzidos a 300 mil. Hoje são mais de 700
mil em 235 povos.
O apelo não é dirigido apenas ao governo. Diante de Deus, somos todos
co-responsáveis pelo pleno direito à
vida e pelo resgate da identidade cultural desses nossos irmãos.
O outro mundo será possível e viável
se superarmos toda exclusão e nos irmanarmos com os povos indígenas,
com os trabalhadores sem terra, com
os quilombolas, com os desempregados e com os sem-teto.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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