São Paulo, domingo, 08 de novembro de 2009

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Além de Copenhague

Lula tem chance rara de projetar o Brasil na cena mundial ao adotar meta factível para combater o aquecimento global

RESTAM quatro semanas para o início da Conferência de Copenhague, na qual 191 países membros da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima deveriam adotar um novo tratado, válido a partir de 2012, para enfrentar o aquecimento global. A reunião se encaminha para um impasse, diante da relutância de todos em assumir compromissos mais ambiciosos de cortes de gases do efeito estufa que os do fracassado Protocolo de Kyoto (1997).
Eis aí uma chance única para o Brasil mostrar-se à altura do prestígio conferido pela boa performance econômica. O governo Lula, no entanto, hesita.
De todo lado vêm exortações para o país adotar metas que ultrapassem o compromisso já assumido por Lula de reduzir em 80% até 2020 o desmatamento, responsável por mais da metade das emissões brasileiras. A última partiu do próprio secretário da Convenção, Yvo de Boer.
A diminuição do desmate garante redução de 20% de todo o carbono que o país emitiria na próxima década, se seguisse a trajetória atual da economia. Discute-se no governo se essa meta deveria ser ampliada para 40%, distribuindo objetivos de redução para vários setores.
Uma reunião na sexta-feira decidirá a posição nacional. Teme-se que o presidente Lula opte por uma atitude cautelosa, reservando um trunfo para pressionar países ricos na mesa de negociação, a fim de que cedam fundos e tecnologia às nações menos desenvolvidas. Agindo assim, o presidente só reforçaria o obstáculo que tem travado o avanço da negociação há anos.
O Brasil deveria chegar a Copenhague com uma meta que vá além do óbvio compromisso de conter o desmatamento. Um programa factível, que engaje todos os setores produtivos no objetivo nacional de redirecionar a economia a um novo tipo de desenvolvimento, em que o esforço de cortar emissões de carbono se traduza em aumento de eficiência e rentabilidade.
Há muitas razões para dar esse passo, a começar pelo papel de liderança que se espera do país na questão ambiental. Poucas nações, ademais, reúnem condições tão favoráveis para dar sua contribuição e auferir ganhos.
O melhor exemplo é a agropecuária, segunda maior fonte de emissões depois do desmatamento. Basta incentivar, com financiamento e assistência técnica, processos de modernização já em curso. Recuperação de pastagens degradadas e integração entre lavoura e pecuária são algumas das boas práticas agronômicas que, rentáveis, ainda colaboram para mitigar o efeito estufa.
Investir em eficiência energética, fontes alternativas de geração de eletricidade e biocombustíveis também é uma iniciativa economicamente viável por si só. Não depende do combate à mudança do clima para se justificar.
Oportunidade similar se abre para o Brasil: ao fazer o que é certa pelo planeta, a maior economia de base natural do mundo continuará na vanguarda do cobiçado desenvolvimento limpo, garantindo melhores condições de vida e de competitividade para as futuras gerações.


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