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Além de Copenhague
Lula tem chance rara de projetar o Brasil na cena mundial ao adotar meta factível para combater o aquecimento global
RESTAM quatro semanas
para o início da Conferência de Copenhague,
na qual 191 países membros da Convenção da ONU sobre Mudança do Clima deveriam
adotar um novo tratado, válido a
partir de 2012, para enfrentar o
aquecimento global. A reunião se
encaminha para um impasse,
diante da relutância de todos em
assumir compromissos mais ambiciosos de cortes de gases do
efeito estufa que os do fracassado Protocolo de Kyoto (1997).
Eis aí uma chance única para o
Brasil mostrar-se à altura do
prestígio conferido pela boa performance econômica. O governo
Lula, no entanto, hesita.
De todo lado vêm exortações
para o país adotar metas que ultrapassem o compromisso já assumido por Lula de reduzir em
80% até 2020 o desmatamento,
responsável por mais da metade
das emissões brasileiras. A última partiu do próprio secretário
da Convenção, Yvo de Boer.
A diminuição do desmate garante redução de 20% de todo o
carbono que o país emitiria na
próxima década, se seguisse a
trajetória atual da economia.
Discute-se no governo se essa
meta deveria ser ampliada para
40%, distribuindo objetivos de
redução para vários setores.
Uma reunião na sexta-feira decidirá a posição nacional. Teme-se que o presidente Lula opte por
uma atitude cautelosa, reservando um trunfo para pressionar
países ricos na mesa de negociação, a fim de que cedam fundos e
tecnologia às nações menos desenvolvidas. Agindo assim, o presidente só reforçaria o obstáculo
que tem travado o avanço da negociação há anos.
O Brasil deveria chegar a Copenhague com uma meta que vá
além do óbvio compromisso de
conter o desmatamento. Um
programa factível, que engaje todos os setores produtivos no objetivo nacional de redirecionar a
economia a um novo tipo de desenvolvimento, em que o esforço
de cortar emissões de carbono se
traduza em aumento de eficiência e rentabilidade.
Há muitas razões para dar esse
passo, a começar pelo papel de liderança que se espera do país na
questão ambiental. Poucas nações, ademais, reúnem condições tão favoráveis para dar sua
contribuição e auferir ganhos.
O melhor exemplo é a agropecuária, segunda maior fonte de
emissões depois do desmatamento. Basta incentivar, com financiamento e assistência técnica, processos de modernização já
em curso. Recuperação de pastagens degradadas e integração entre lavoura e pecuária são algumas das boas práticas agronômicas que, rentáveis, ainda colaboram para mitigar o efeito estufa.
Investir em eficiência energética, fontes alternativas de geração de eletricidade e biocombustíveis também é uma iniciativa
economicamente viável por si só.
Não depende do combate à mudança do clima para se justificar.
Oportunidade similar se abre
para o Brasil: ao fazer o que é certa pelo planeta, a maior economia de base natural do mundo
continuará na vanguarda do cobiçado desenvolvimento limpo,
garantindo melhores condições
de vida e de competitividade para as futuras gerações.
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