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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Farsantes
SÃO PAULO - Quantos milhões "não contabilizados" ainda estarão escondidos sob as desculpas esfarrapadas
de Delúbio Soares? E quanto custam
o silêncio e os contos de fada do ex-tesoureiro? E quem paga por eles?
Delúbio se tornou uma espécie de
lixo atômico para o governo e para o
PT. É o culpado por tudo, aquele que
está sempre disposto a assumir tudo
sozinho, mas ao mesmo tempo não
pode ser imolado, precisa ser preservado a qualquer custo. A situação é
esquizofrênica, mas a equação é simples: se ele explodir (ou falar a verdade), o governo implode, vem abaixo.
Outros protagonistas do teatro do
absurdo petista teriam esse poder de
demolir a casa com poucas palavras.
Dirceu e Palocci, por exemplo. Mas a
nenhum dos dois coube o papel vexatório de subir no palco e gritar ao
país: "O mensalão sou eu!".
Em condições mais normais, o milhãozinho que saiu do PT e -ninguém sabe, ninguém viu- foi parar
na conta da Coteminas seria suficiente para fazer ruir qualquer governo. Paradoxalmente, Lula e o PT
se beneficiam da miríade de falcatruas, da profusão de denúncias, do
excesso de bandalheira revelada ao
país. É como se cada nova história
anulasse o efeito corrosivo das anteriores, sucessivamente, numa espécie
de jogo entorpecente de soma zero.
A conta política virá, é certo, mas
as pessoas hoje quase não reagem
mais. Parece que a capacidade de indignação chegou ao limite, atingiu a
exaustão. Ninguém que seja normal
tem mais disposição para acompanhar os meandros e os desdobramentos quase sempre enfadonhos
daquilo que, no fundo, já sabe.
Instalou-se um ambiente de prostração e indiferença. É nele que opera o PT. O partido já não inventa
versões para persuadir ou convencer
a opinião pública de que elas são verossímeis, fazem sentido. Nada disso.
Evoluímos dessa etapa primitiva. As
versões agora são sacadas do bolso,
literalmente, quase sempre de afogadilho, só com a intenção de reduzir
danos criminais e/ou conseqüências
políticas mais desastrosas. A começar pelo impeachment de Lula.
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