São Paulo, quinta-feira, 08 de dezembro de 2005

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Farsantes

SÃO PAULO - Quantos milhões "não contabilizados" ainda estarão escondidos sob as desculpas esfarrapadas de Delúbio Soares? E quanto custam o silêncio e os contos de fada do ex-tesoureiro? E quem paga por eles?
Delúbio se tornou uma espécie de lixo atômico para o governo e para o PT. É o culpado por tudo, aquele que está sempre disposto a assumir tudo sozinho, mas ao mesmo tempo não pode ser imolado, precisa ser preservado a qualquer custo. A situação é esquizofrênica, mas a equação é simples: se ele explodir (ou falar a verdade), o governo implode, vem abaixo.
Outros protagonistas do teatro do absurdo petista teriam esse poder de demolir a casa com poucas palavras. Dirceu e Palocci, por exemplo. Mas a nenhum dos dois coube o papel vexatório de subir no palco e gritar ao país: "O mensalão sou eu!".
Em condições mais normais, o milhãozinho que saiu do PT e -ninguém sabe, ninguém viu- foi parar na conta da Coteminas seria suficiente para fazer ruir qualquer governo. Paradoxalmente, Lula e o PT se beneficiam da miríade de falcatruas, da profusão de denúncias, do excesso de bandalheira revelada ao país. É como se cada nova história anulasse o efeito corrosivo das anteriores, sucessivamente, numa espécie de jogo entorpecente de soma zero.
A conta política virá, é certo, mas as pessoas hoje quase não reagem mais. Parece que a capacidade de indignação chegou ao limite, atingiu a exaustão. Ninguém que seja normal tem mais disposição para acompanhar os meandros e os desdobramentos quase sempre enfadonhos daquilo que, no fundo, já sabe.
Instalou-se um ambiente de prostração e indiferença. É nele que opera o PT. O partido já não inventa versões para persuadir ou convencer a opinião pública de que elas são verossímeis, fazem sentido. Nada disso. Evoluímos dessa etapa primitiva. As versões agora são sacadas do bolso, literalmente, quase sempre de afogadilho, só com a intenção de reduzir danos criminais e/ou conseqüências políticas mais desastrosas. A começar pelo impeachment de Lula.


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