São Paulo, sábado, 08 de dezembro de 2007

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Intercâmbio a ser evitado

NUM ESPETÁCULO público de desmoralização, a Telefônica patrocinou uma festa para funcionários do Procon paulista. Eles almoçaram e tomaram vinho às expensas da empresa de telecomunicações e ainda foram regalados com mimos como aparelhos de DVD, telefones sem fio, relógios etc.
A Telefônica é a empresa que encabeça o ranking de reclamações do Procon, cuja missão legal é patrocinar a defesa do consumidor. Não é preciso mais do que essa constatação para duvidar da pureza de intenções dos executivos da companhia, que preferem descrever o encontro como "reunião de intercâmbio". Já a diretoria da fundação pública disse que os presentes foram aceitos para "evitar constrangimento", mas que serão devolvidos.
Relações assim promíscuas não são novidade. No ano passado, causou espécie a viagem, paga pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), de 47 ministros e desembargadores ao balneário de Comandatuba, no litoral baiano, para participar de "seminário". O próprio presidente da República organizou, em 2004, uma coleta de fundos com empresários para custear reforma no Palácio da Alvorada.
Não se imagina que um magistrado deixe de decidir contra um banco por conta da estadia em Comandatuba, nem que o servidor do Procon se furte a tomar medidas cabíveis contra a Telefônica devido à prenda recebida.
É inegável, entretanto, que a estratégia de criar disposição favorável pela distribuição de presentes e gentilezas dá resultados. Em situações nebulosas, a tendência do funcionário agraciado é aceitar o discurso do benfeitor. A indústria farmacêutica se utiliza desses expedientes com médicos há décadas.
Instituições como a Justiça e o Procon dependem de credibilidade. O comparecimento de funcionários em "reuniões de intercâmbio" não ajuda a promovê-la.


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