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Intercâmbio a ser evitado
NUM ESPETÁCULO público
de desmoralização, a Telefônica patrocinou uma
festa para funcionários do Procon paulista. Eles almoçaram e
tomaram vinho às expensas da
empresa de telecomunicações e
ainda foram regalados com mimos como aparelhos de DVD, telefones sem fio, relógios etc.
A Telefônica é a empresa que
encabeça o ranking de reclamações do Procon, cuja missão legal
é patrocinar a defesa do consumidor. Não é preciso mais do que
essa constatação para duvidar da
pureza de intenções dos executivos da companhia, que preferem
descrever o encontro como "reunião de intercâmbio". Já a diretoria da fundação pública disse
que os presentes foram aceitos
para "evitar constrangimento",
mas que serão devolvidos.
Relações assim promíscuas
não são novidade. No ano passado, causou espécie a viagem, paga pela Federação Brasileira de
Bancos (Febraban), de 47 ministros e desembargadores ao balneário de Comandatuba, no litoral baiano, para participar de "seminário". O próprio presidente
da República organizou, em
2004, uma coleta de fundos com
empresários para custear reforma no Palácio da Alvorada.
Não se imagina que um magistrado deixe de decidir contra um
banco por conta da estadia em
Comandatuba, nem que o servidor do Procon se furte a tomar
medidas cabíveis contra a Telefônica devido à prenda recebida.
É inegável, entretanto, que a
estratégia de criar disposição favorável pela distribuição de presentes e gentilezas dá resultados.
Em situações nebulosas, a tendência do funcionário agraciado
é aceitar o discurso do benfeitor.
A indústria farmacêutica se utiliza desses expedientes com médicos há décadas.
Instituições como a Justiça e o
Procon dependem de credibilidade. O comparecimento de funcionários em "reuniões de intercâmbio" não ajuda a promovê-la.
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