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IGOR GIELOW
Uma era sem líderes
SE OS EVENTOS que vão definindo esse começo de era são
conhecidos, e eles têm um
marco simbólico no 11 de Setembro, há uma constatação a ser feita
sobre seus protagonistas: o mundo
do século 21 é um mundo até aqui
sem gigantes morais. Escaneie o
mundo atrás de líderes a que se pode dar o título de grande. O resultado é zero, e isso não é necessariamente bom ou ruim; apenas é.
Comecemos pelos EUA, único
país realmente global do ponto de
vista de projeção de poder, de capacidade tanto de fazer estrago como
de promover o bem. George W.
Bush passará à história como um
Roosevelt? Não. Parvo é uma qualificação mais provável, e os candidatos à sua cadeira não inspiram
nenhum sentimento melhor.
Desloque-se para a China comunista, o bicho-papão de dez entre
dez debates geopolíticos. A foto tirada dos membros do Politburo ao
fim do congresso do PC deste ano
dizia tudo: uma burocracia uniforme. Atravesse o mar do Japão e
chegamos a uma coleção de políticos indistintos -vez ou outra aparece um Koizumi, mas passa logo.
Na Rússia ressurgente, enquanto o petróleo estiver caro, o timoneiro é Vladimir Putin. Ele pode
ser tudo, menos um líder político
vibrante. A recente campanha eleitoral parlamentar é um ótimo
exemplo: era toda sobre Putin, mas
ninguém consegue definir o que
ele quer além de poder czarista.
A Europa toda parece uma amálgama amorfa de supostos liberais,
pretensos socialistas e falsos reformistas. Não há figura mais cinzenta que o premiê Gordon Brown, nada tão provinciano quanto a chanceler Angela Merkel. Volta e meia
surge um Sarkozy, mas ele lembra
demais em estilo Silvio Berlusconi
para ser levado a sério.
Um ou outro fóssil vivo ainda está no jogo, como Mandela e Fidel,
mas são apenas sombras. Os funerais de João Paulo 2º e de Iasser
Arafat foram, de certa forma, cerimônias de adeus ao século 20.
Alguém vai lembrar que há a colorida procissão dos "nossos guias"
na América Latina. Socorro. Chávez, como figura moral, é nulo. Lula
pode entrar para a história como
um bom ou mau presidente, mas
sua importância mundial se restringe ao papel que cabe a um líder
político brasileiro hoje: algo lateral.
Essa despersonalização do mundo político, como resultado do colapso do sistema de poder da Guerra Fria e da ascensão da globalização corporativa aliada às comunicações abundantes, é inexorável?
Em 1910, Norman Angell argumentou que a integração das economias européias tinha chegado a
um grau de sofisticação que tornava o militarismo, o jogo de poder
baseado em grandes atores uma
"Grande Ilusão" -título de seu livro. O mundo estava globalizado,
era seu ponto. Durou apenas quatro anos para ser desmontado.
IGOR GIELOW é secretário de Redação da Sucursal de
Brasília.
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