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Europa endividada
Países da região não afastam risco de insolvência; União Europeia estuda renegociar dívidas, para prejuízo de seus bancos e de sua economia
O pacote de ajuda de 67 bilhões (cerca de R$ 150 bilhões) para a Irlanda, fechado há duas semanas, foi montado às pressas pela União Europeia para evitar o
que parecia ser um iminente colapso dos bancos do país. Mas, ao
contrário do que esperavam as autoridades, o mercado não se deu
por satisfeito. Portugal e Espanha
passaram a pagar taxas de juros
ainda mais altas por suas dívidas.
O que se percebe é que o problema dos países europeus é hoje
bem maior do que simplesmente a
necessidade de pagar parcelas
que vencem de suas dívidas. Fica
cada vez mais claro que há riscos
de insolvência -ou seja, de que o
próprio montante devido se mostre impagável-, que antes não pareciam tão nítidos.
Quanto a isso, é útil considerar
a situação dos dois países já resgatados pela rede de segurança da
UE. Na Grécia, houve clara irresponsabilidade com o dinheiro público, com gastos do governo sistematicamente maiores do que
sua capacidade de arrecadação.
O caso irlandês é diferente. Nos
anos que precederam a crise, o governo tinha uma situação fiscal invejável, com forte crescimento
econômico, superavit fiscais e endividamento público muito abaixo da média do continente.
Parte da prosperidade do país
era ilusória, pois estava calcada
em receitas de impostos que só
existiam em decorrência de uma
bolha financeira. Para piorar, no
auge da crise global, em 2008, o
governo garantiu que arcaria com
todas as dívidas dos bancos irlandeses. Este foi um erro colossal.
Revelou-se depois que as instituições financeiras da Irlanda não
eram apenas "grandes demais para quebrar", como se diz no jargão, mas, pior, eram "grandes demais para salvar".
A origem dos problemas difere
em cada caso, mas os resultados
são igualmente perversos: o problema atual não é apenas a falta
de liquidez temporária. Uma expectativa realista quanto ao crescimento dessas economias no futuro próximo sugere que não será
possível sair da armadilha da dívida sem sua reestruturação. Se for
o caso, prazos de pagamentos prolongados ou mesmo descontos no
total devido terão que ser negociados, como já se estuda fazer.
Ocorre que a Europa realizou,
na última década, impressionante
integração financeira. Os credores
dessas dívidas, que podem vir a
ter sérios prejuízos, são em grande
medida os próprios bancos europeus, com trilhões de euros em
créditos cruzados entre si, o que
cria novas dificuldades.
Enquanto isso, os governos tentam ganhar tempo. Montam-se
pacotes de salvamento e o Banco
Central Europeu se dispõe a comprar papéis da periferia. Na prática, isso significa uma lenta socialização das dívidas, como tão bem ilustrado no caso irlandês.
O paralelo com os calotes da
América Latina é inevitável. Depois da farra de endividamento
dos anos 70, os governos garantiram uma grande parte da dívida
externa privada para depois renegociá-la com os credores. O Brasil,
por exemplo, só concluiu esse
processo em 1994. Um roteiro similar ameaça a periferia europeia.
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