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FERNANDO RODRIGUES
Disfunção gerencial
BRASÍLIA - Entrar na discussão
sobre qual é o melhor avião caça para a Força Aérea Brasileira é como
andar sobre areia movediça de desenho animado. Quanto mais se
mexe, mais se vai ao fundo. Deixo o
tema para os especialistas aqui da
Folha em Brasília, Eliane Cantanhêde e Igor Gielow.
Prefiro abordar o aspecto subjacente da história. Trata-se da exposição cruel da fragilidade administrativa e gerencial do país. Algo bem
diferente do "Brasil grande" presente na propaganda lulista.
O processo de compra dos aviões
de combate começou há dez anos.
Agora há uma chance não desprezível de o assunto cair no colo do próximo ocupante do Planalto.
Há uma disfunção gerencial grave quando um país demora dez
anos para comprar 36 aviões. Mesmo sendo uma operação cara, com
grande repercussão no desenvolvimento tecnológico local.
Está em desuso comparar práticas administrativas do governo
com as da iniciativa privada, mas é
útil pensar em como uma multinacional agiria se tivesse de comprar
equipamentos de segurança vitais.
É o caso dos caças para a FAB. Um
país como o Brasil precisa ter aviões
desse porte para garantir a segurança e patrulhar seu território continental adequadamente.
Se uma multinacional retarda
dez anos o processo de aquisição de
um sistema de segurança, seu patrimônio acabará dilapidado. Não que
os caças da FAB terão o poder de
varrer do Brasil, da noite para o dia,
o narcotráfico internacional e o
contrabando de armas. Mas esses
aviões são essenciais como força de
dissuasão e ajudam na presença ostensiva das Forças Armadas, hoje
algo quase inexistente.
O capricho do Planalto a favor do
avião francês é talvez o aspecto menos relevante nesse episódio. A incapacidade de decidir é pior. Arrasta o Brasil para baixo. Mostra a distância entre o país real e o da propaganda de Lula na TV e no rádio.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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