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CLÓVIS ROSSI
O país Porcina
SÃO PAULO - Três ou quatro observações sobre o resultado desastroso dos exames que medem o desempenho escolar do brasileiro:
1 - Todos os candidatos colocaram a educação como prioridade 1
em suas campanhas desde que voltaram as eleições diretas presidenciais, em 1989. Os eleitos, principalmente Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, fracassaram. Mas não se sentem aludidos ao ver o lastimável estado do
que no gogó priorizaram.
Nem se sentem compelidos a
prestar contas do fracasso ao distinto público, que, por sua vez, tampouco cobra.
2 - O Brasil parece condenado a
ser eternamente medíocre. Em vez
de integrante dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China, as supostas potências mundiais em meados do século), deveria ingressar nos PMBs
(países meia-boca). Ou PVP, País
Viúva Porcina, aquele que foi (eterna promessa de futuro) sem nunca
chegar de fato ao futuro.
3 - A questão da educação é um
reflexo direto do quadro geral de
iniqüidade obscena que predomina
na pátria há uns 500 anos ou mais.
Cada vez que se universaliza um dado bem (no caso, a educação), entrega-se um produto deteriorado.
No meu tempo de ensino básico,
há uns 50 anos, a escola pública era
de excelência porque era para poucos (eu era da elite e nem sabia naquela época, meu Deus).
À medida que foi se abrindo para
o andar de baixo, a qualidade deteriorou-se, como se pobre não tivesse direito a produtos de qualidade
ao menos razoável.
À medida que a universalização
se tornou ainda mais completa, a
deterioração se acentuou, do que
dão prova as duas medições divulgadas anteontem.
4 - Se, ainda assim, os pais estão
satisfeitos, é porque o brasileiro
aceita a mediocridade. Pior: até a
festeja.
A continuar desse jeito, nela vegetaremos até o fim dos tempos.
crossi@uol.com.br
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