São Paulo, sexta-feira, 09 de fevereiro de 2007

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CLÓVIS ROSSI

O país Porcina

SÃO PAULO - Três ou quatro observações sobre o resultado desastroso dos exames que medem o desempenho escolar do brasileiro:
1 - Todos os candidatos colocaram a educação como prioridade 1 em suas campanhas desde que voltaram as eleições diretas presidenciais, em 1989. Os eleitos, principalmente Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, fracassaram. Mas não se sentem aludidos ao ver o lastimável estado do que no gogó priorizaram. Nem se sentem compelidos a prestar contas do fracasso ao distinto público, que, por sua vez, tampouco cobra.
2 - O Brasil parece condenado a ser eternamente medíocre. Em vez de integrante dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China, as supostas potências mundiais em meados do século), deveria ingressar nos PMBs (países meia-boca). Ou PVP, País Viúva Porcina, aquele que foi (eterna promessa de futuro) sem nunca chegar de fato ao futuro.
3 - A questão da educação é um reflexo direto do quadro geral de iniqüidade obscena que predomina na pátria há uns 500 anos ou mais. Cada vez que se universaliza um dado bem (no caso, a educação), entrega-se um produto deteriorado.
No meu tempo de ensino básico, há uns 50 anos, a escola pública era de excelência porque era para poucos (eu era da elite e nem sabia naquela época, meu Deus). À medida que foi se abrindo para o andar de baixo, a qualidade deteriorou-se, como se pobre não tivesse direito a produtos de qualidade ao menos razoável.
À medida que a universalização se tornou ainda mais completa, a deterioração se acentuou, do que dão prova as duas medições divulgadas anteontem.
4 - Se, ainda assim, os pais estão satisfeitos, é porque o brasileiro aceita a mediocridade. Pior: até a festeja.
A continuar desse jeito, nela vegetaremos até o fim dos tempos.


crossi@uol.com.br

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