São Paulo, segunda-feira, 09 de fevereiro de 2009 |
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Editoriais editoriais@uol.com.br O enigma iraniano
A TENTATIVA de retomada do diálogo entre Washington e Teerã obedece a um roteiro clássico. Representantes dos dois países emitem mensagens preliminares para o outro lado em fóruns internacionais -sem prejuízo de ensaiarem, em outro plano, aproximações secretas. O itinerário foi seguido durante a 45ª Conferência de Segurança de Munique, encontro de autoridades e especialistas em defesa, encerrado ontem na capital da Baviera. Na sexta, o representante iraniano elogiou o governo Obama por ter nomeado um enviado especial, o senador George Mitchell, para mediar o conflito israelo-palestino. No dia seguinte, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, devolveu o recado. Uma "détente" entre a Casa Branca e o regime dos aiatolás, que acumulam 30 anos de ruptura e hostilidade, seria um acontecimento capaz de desarmar espíritos ao longo do chamado grande Oriente Médio. O Irã incentiva e patrocina grupos e milícias fundamentalistas que fustigam Israel -caso dos xiitas do Hizbollah, no Líbano, e do Hamas nos territórios palestinos. Uma distensão entre Irã e EUA também ajudaria a consolidar a transição política no Iraque, de maioria xiita como o Irã. A normalização das relações entre Washington e Teerã depende sobretudo de como as duas partes vão lidar com o tema do programa nuclear iraniano. O Irã, signatário do Tratado de Não-Proliferação, sustenta seu direito de desenvolver um projeto para fins pacíficos. É bastante provável, entretanto, que a elite do regime xiita tenha a ambição secreta de produzir um arsenal atômico. Na região em que está inserido o Irã, há três potências nucleares: Israel, Paquistão e Índia, em ordem decrescente de hostilidade em relação a Teerã. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica, o Irã está prestes a implantar mais uma unidade de produção de combustível nuclear. Serão 3.000 novas centrífugas -atualmente, há 3.800 em funcionamento, além de 2.200 em fase de instalação. Mas a agência da ONU não detectou níveis de enriquecimento de urânio acima dos 5%, compatíveis com um programa para geração de energia elétrica. A fim de produzir uma bomba, é preciso enriquecer o minério a 90%, dominar a tecnologia para colocá-lo numa ogiva e detoná-la e dispor de mísseis capazes de transportá-la. Segundo o chefe da AIEA, o Irã levaria no mínimo mais dois anos para chegar a esse estágio. Haveria tempo suficiente para negociar com Teerã. Mas a efetivação da ambiciosa agenda de aproximação com o Irã terá de esperar até junho, quando haverá eleições presidenciais no país persa. Preocupada com os efeitos da crise econômica doméstica, decorrência da queda no preço do petróleo, a linha dura representada por Mahmoud Ahmadinejad, que tentará a reeleição, promove campanha para intimidar e reprimir as forças reformistas. A confirmação, ontem, de que o ex-presidente Mohammad Khatami será o principal candidato moderado deverá acirrar ainda mais os ânimos dos radicais que estão no poder. Próximo Texto: Editoriais: Fiscalização genérica Índice |
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