São Paulo, quarta-feira, 09 de fevereiro de 2011

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Pelé se mexe no banco

SÃO PAULO - Lula não esperou nem o Carnaval chegar. Apenas 37 dias depois de passar a faixa presidencial a Dilma Rousseff, não se aguentou e soltou o verbo lá de Dacar, no Senegal, onde participou do Fórum Social Mundial. O ex-presidente acusou as centrais sindicais de "oportunismo" e defendeu que o reajuste do salário mínimo tem de seguir a regra acordada em 2007, que é a soma da inflação anual e da variação do PIB no ano anterior, no caso 2009, o ano da crise.
O pito público nos sindicatos soa inconveniente por várias razões. Lula dizia, antes de sair, que ia "dar uma lição de como se comporta um ex-presidente". Disse ainda que só daria conselho se lhe fosse pedido.
Ninguém imagina que sua fala tenha sido encomendada por Dilma. Lula provavelmente falou (e já jogou no lixo suas promessas) porque essa é a sua natureza.
É óbvio que a "ajuda" de além-mar sugere tutela e diminui a presidente. Ela reforça a sensação de que Dilma seria uma "presidente-ministra", encerrada no gabinete com seus afazeres administrativos, enquanto Lula -menos um "ex-presidente" do que um "presidente-extra"- faz a interlocução com as ruas e medeia os conflitos.
A imagem pode parecer um tanto exagerada, mas pense o seguinte: afora as brigas internas dos aliados por espaço e cargos, a queda de braço em torno do mínimo é a primeira disputa política séria entre o governo e as forças sociais organizadas. É também o primeiro teste efetivo da nova gestão no Congresso, onde, em tese, Dilma tem folga.
O mais provável é que os sindicatos ganhem algum pirulito de presente e os parlamentares chancelem o valor fixado pelo Planalto. Qualquer coisa fora disso seria uma enorme surpresa. Mas de quem será o mérito? E o precedente?
Homem forte de Lula mantido no governo Dilma, Gilberto Carvalho dizia orgulhoso no início do ano: "Temos um Pelé no banco de reservas". O jogo mal começou e o rei já quer matar a bola no peito.


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