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AS LIÇÕES DE UM REI
Os funerais do rei Hussein, da Jordânia, talvez tenham se igualado, em
número de governantes, à cerimônia
muito parecida, em 1995, na qual foi
sepultado o primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin. As imagens
transmitidas pela televisão deram
ainda ao luto a dimensão de um espetáculo de relações internacionais.
De certo modo, cada um dos presentes trazia como mensagem a adesão ao exemplo que o soberano morto propiciou nos últimos anos de seu
reinado e que consistiu em impedir
que as tensões no Oriente Médio se
resolvessem de outra maneira que
não fosse a da negociação.
Tem sido esse um consenso lentamente amadurecido na região. O Iraque se deixou isolar por representar a
grande exceção à regra.
Paradoxalmente, no entanto, raramente esteve tão congestionada a
agenda de problemas políticos e diplomáticos nessa que foi, no pós-Segunda Guerra, a mais explosiva das
regiões do planeta.
Israel, com eleições já marcadas,
deverá optar por uma maneira de
conduzir o relacionamento com seus
vizinhos de fronteira. A Autoridade
Nacional Palestina planeja em breve
proclamar unilateralmente um Estado. O Líbano não se conforma inteiramente com a condição de protetorado oficioso da Síria. Por sua vez, o
integrismo islâmico não dá mostras
de ceder à lógica da rebelião contra
regimes laicos, mesmo aqueles mais
avessos à modernidade democrática.
Hussein conheceu um Oriente Médio ainda bem mais conflagrado,
quando nenhum regime árabe reconhecia o direito à existência de Israel.
A Jordânia enfrentou os israelenses
em 1967 e para eles perdeu a Cisjordânia e Jerusalém.
Mas o rei viveu o bastante para saber que a solução militar criava tensões que já embutiam futuros conflitos armados. A lição que ele e muitos
outros deixaram está na crença da via
menos espetacular e mais tortuosa
da diplomacia, com concessões que,
afinal, só os governantes com certa
legitimidade podem levar a cabo.
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