São Paulo, Terça-feira, 09 de Fevereiro de 1999
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AS LIÇÕES DE UM REI

Os funerais do rei Hussein, da Jordânia, talvez tenham se igualado, em número de governantes, à cerimônia muito parecida, em 1995, na qual foi sepultado o primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin. As imagens transmitidas pela televisão deram ainda ao luto a dimensão de um espetáculo de relações internacionais.
De certo modo, cada um dos presentes trazia como mensagem a adesão ao exemplo que o soberano morto propiciou nos últimos anos de seu reinado e que consistiu em impedir que as tensões no Oriente Médio se resolvessem de outra maneira que não fosse a da negociação.
Tem sido esse um consenso lentamente amadurecido na região. O Iraque se deixou isolar por representar a grande exceção à regra.
Paradoxalmente, no entanto, raramente esteve tão congestionada a agenda de problemas políticos e diplomáticos nessa que foi, no pós-Segunda Guerra, a mais explosiva das regiões do planeta.
Israel, com eleições já marcadas, deverá optar por uma maneira de conduzir o relacionamento com seus vizinhos de fronteira. A Autoridade Nacional Palestina planeja em breve proclamar unilateralmente um Estado. O Líbano não se conforma inteiramente com a condição de protetorado oficioso da Síria. Por sua vez, o integrismo islâmico não dá mostras de ceder à lógica da rebelião contra regimes laicos, mesmo aqueles mais avessos à modernidade democrática.
Hussein conheceu um Oriente Médio ainda bem mais conflagrado, quando nenhum regime árabe reconhecia o direito à existência de Israel. A Jordânia enfrentou os israelenses em 1967 e para eles perdeu a Cisjordânia e Jerusalém.
Mas o rei viveu o bastante para saber que a solução militar criava tensões que já embutiam futuros conflitos armados. A lição que ele e muitos outros deixaram está na crença da via menos espetacular e mais tortuosa da diplomacia, com concessões que, afinal, só os governantes com certa legitimidade podem levar a cabo.


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