São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Pobreza, a nossa e a deles

LONDRES - Desde 1979, quando Margaret Thatcher subiu ao poder, o Reino Unido é uma espécie de grande farol das políticas chamadas neoliberais, que depois se tornaram hegemônicas em quase todo o mundo, em especial na América Latina.
Mesmo depois que os trabalhistas voltaram ao poder, em 1997, com Tony Blair, o tipo de políticas liberalizantes continuou, com matizes importantes, mas que acabaram obscurecidas, aos olhos da mídia, pelo predomínio da linha central básica.
Um pouco como no Brasil, em que petistas e tucanos mantêm a mesma política há 12 anos, ainda que haja matizes, como mais gastos assistenciais no atual governo.
Bom, agora o jornal "Financial Times" relata que o governo Tony Blair não conseguiu alcançar sua meta de reduzir a pobreza infantil em um quarto durante seus dois primeiros períodos (1997/2001 e 2001/2005). Detalhe: seria apenas a primeira etapa de um processo que, em uma geração, acabaria com a pobreza infantil -meta nobre e que, no Brasil, ninguém nem ousa propor, tal a dimensão ciclópica da tarefa.
Aí, cai-se na questão fiscal. Mesmo que tivesse conseguido dar o primeiro passo até 2005, o governo teria que gastar 1,4 bilhão de libras esterlinas (R$ 5,18 bilhões) ao ano para poder reduzir à metade a pobreza infantil em uma década, a segunda etapa da meta de eliminá-la mais adiante.
Temos então que um país rico, com uma população menor que a brasileira e com uma população pobre (crianças ou adultos) muitíssimo menor -e bota muitíssimo nisso- precisa arranjar recursos fiscais que não ficam muito longe de tudo o que o governo brasileiro gastou com as suas muitas bolsas-assistenciais (cerca de R$ 7 bilhões).
Como é que você pode esperar que, com a atual estrutura de gastos fiscais brasileiros (incluindo os gastos com os juros da dívida), seja possível de fato operar uma redução da pobreza na escala necessária para as obscenas condições tupiniquins? Não sabe a resposta? Não está sozinho: governo e oposição tampouco.


@ - crossi@uol.com.br

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