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CLÓVIS ROSSI
Pobreza, a nossa e a deles
LONDRES - Desde 1979, quando Margaret Thatcher subiu ao poder, o Reino Unido é uma espécie de grande farol das políticas chamadas neoliberais, que depois se tornaram hegemônicas em quase todo o mundo, em especial na América Latina.
Mesmo depois que os trabalhistas
voltaram ao poder, em 1997, com
Tony Blair, o tipo de políticas liberalizantes continuou, com matizes importantes, mas que acabaram obscurecidas, aos olhos da mídia, pelo predomínio da linha central básica.
Um pouco como no Brasil, em que
petistas e tucanos mantêm a mesma
política há 12 anos, ainda que haja
matizes, como mais gastos assistenciais no atual governo.
Bom, agora o jornal "Financial Times" relata que o governo Tony Blair
não conseguiu alcançar sua meta de
reduzir a pobreza infantil em um
quarto durante seus dois primeiros
períodos (1997/2001 e 2001/2005). Detalhe: seria apenas a primeira etapa
de um processo que, em uma geração, acabaria com a pobreza infantil
-meta nobre e que, no Brasil, ninguém nem ousa propor, tal a dimensão ciclópica da tarefa.
Aí, cai-se na questão fiscal. Mesmo
que tivesse conseguido dar o primeiro
passo até 2005, o governo teria que
gastar 1,4 bilhão de libras esterlinas
(R$ 5,18 bilhões) ao ano para poder
reduzir à metade a pobreza infantil
em uma década, a segunda etapa da
meta de eliminá-la mais adiante.
Temos então que um país rico, com
uma população menor que a brasileira e com uma população pobre
(crianças ou adultos) muitíssimo menor -e bota muitíssimo nisso- precisa arranjar recursos fiscais que não
ficam muito longe de tudo o que o governo brasileiro gastou com as suas
muitas bolsas-assistenciais (cerca de
R$ 7 bilhões).
Como é que você pode esperar que,
com a atual estrutura de gastos fiscais brasileiros (incluindo os gastos
com os juros da dívida), seja possível
de fato operar uma redução da pobreza na escala necessária para as
obscenas condições tupiniquins? Não
sabe a resposta? Não está sozinho: governo e oposição tampouco.
@ - crossi@uol.com.br
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