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CLÓVIS ROSSI
Minhas perguntas a Bush
SÃO PAULO - O Itamaraty e o governador José Serra não gostaram
do relatório dos EUA sobre violações aos direitos humanos no Brasil. É direito deles, mas não dá para
dizer que o relatório mente.
Eu, se fosse ministro ou governador de São Paulo, preferiria usar as
perguntas que a Human Rights
Watch faria ao presidente George
Walker Bush durante sua visita ao
Brasil. Duas delas:
1 - "De acordo com um relatório
divulgado pela Human Rights
Watch na semana passada, o governo dos EUA é responsável por desaparecimentos forçados ao manter
suspeitos detidos em prisões secretas fora dos EUA. O relatório identifica 38 "desaparecidos" cujo paradeiro permanece desconhecido.
Quando é que os Estados Unidos
vão revelar o destino e o paradeiro
de todos os prisioneiros mantidos
em prisões secretas pela CIA desde
2001?".
2 - "Em fevereiro, o Brasil e muitos outros países da América Latina
assinaram a recém-adotada Convenção contra Desaparecimentos
Forçados. Os EUA se recusaram a
assiná-la. Por que os EUA não
apóiam essa tentativa de combater
uma internacionalmente reconhecida violação dos direitos humanos?"
Faria também uma cobrança em
relação aos prisioneiros da chamada "guerra ao terror", mantidos ilegalmente em Guantánamo, em
uma situação que Franz Kafka teria
dificuldades de imaginar.
É assim: um tribunal federal decidiu, há 15 dias, que estrangeiros
presos nesse pedaço de Cuba não
têm direito ao amparo judicial porque Guantánamo não é dos Estados
Unidos. Ou seja, os EUA criam um
encrave em território cubano e "escondem" lá certos presos, que ficam, por isso, no limbo judicial, o
que joga no lixo o "devido processo"
de que tanto se orgulhava a democracia norte-americana e cuja ausência tanto criticam em outros
países, com razão, aliás.
crossi@uol.com.br
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