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Paradoxo das ONGs
MUITA COISA irregular pode ser investigada pela
CPI das ONGs, e o noticiário recente tem sido pródigo
em identificar potenciais focos
de escândalo. Nos ministérios do
Trabalho e dos Esportes, encabeçados respectivamente por
um pedetista e um pecedobista,
realizaram-se acordos com entidades cujos diretores são militantes do PDT e do PC do B.
Há ainda o caso, também revelado por esta Folha, de quatro
ONGs que mantêm laços próximos com políticos do PT e do
PMDB. Ao que tudo indica, um
sistema articulando verbas públicas, projetos sociais e feudos
partidários tende a configurar-se como prática política generalizada no país. Haveria já material, sem dúvida, para mais de
uma única CPI.
Uma reflexão mais ampla, entretanto, desde já se impõe. Em
tese, seria de esperar que entidades da sociedade civil pudessem
sobreviver com recursos próprios. Na prática, cria-se uma espécie de organismo híbrido, ao
mesmo tempo não-governamental e dependendo, para sobreviver, de verbas estatais.
Assim, de um lado o poder público se mostra incapaz de atender as carências sociais da população, abrindo espaço para as
ONGs; de outro, revela-se onipresente, desvirtuando a autonomia que estas idealmente deveriam possuir.
Os próprios partidos, tantas
vezes marcados pela falta de
enraizamento social, parecem
encontrar nas ONGs uma forma
peculiar de relacionamento com
a população, funcionando como
intermediários do assistencialismo estatal. Cria-se, deste modo,
um paradoxo, talvez tipicamente
brasileiro: a esfera do não-governamental se confunde com a do
paraestatal, acentuando, ainda e
sempre, as incapacidades da sociedade brasileira de desvencilhar-se do sistema governamental que a sufoca.
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