São Paulo, domingo, 09 de março de 2008

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Aliança, lealdade, estratégia

WALTER FELDMAN


Em São Paulo, temos o dever de dar prioridade à aliança com o DEM, até para evitar que o PSDB fique marcado com a pecha de "fominha"


O PSDB TEVE como berço a cidade de São Paulo e cresceu depois por todo o Brasil. Aqui, ao nascer nosso partido, ouvíamos a pregação de Franco Montoro: "As pessoas vivem no município, ninguém vive na União ou no Estado". Por isso, somos sensíveis à lógica local, ao mesmo tempo em que abraçamos o desafio de devolver ao Brasil o nosso modelo de gestão, que mescla honestidade, modernidade e competência.
Na condição de político que escolheu São Paulo como distrito eleitoral, acompanho com natural preocupação o momento de dramática decisão que vivemos. Tenho tido oportunidade de manifestar minha opinião com a sinceridade de sempre. Penso que é o caso de externar o que vejo e sinto no PSDB de São Paulo.
Vejo que prevalece a preferência pela preservação da aliança que mantemos com o DEM. Foi esse o desejo sensato expresso em documento produzido pela bancada tucana no Legislativo municipal. Temos com o DEM uma união de longa data e de conquistas significativas para a vida nacional, estadual e municipal -fenômeno raro na cena política brasileira.
Nossa aliança elegeu Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998 para a Presidência, elegeu Geraldo Alckmin governador do Estado em 2002, tendo como vice-governador Cláudio Lembo. Novamente, elegeu José Serra prefeito de São Paulo em 2004, tendo como vice Gilberto Kassab, e elegeu Serra governador, em 2006.
Quando olhamos a lista dos políticos que encabeçaram essas chapas, não é possível negar que tucanos foram sempre os indicados. Isso foi resultado de negociações políticas em que os partidos escolheram juntos o que pareceu o melhor nome, tendo como critério a viabilidade eleitoral.
Em outros casos, impôs-se o critério da naturalidade, como na reeleição de Alckmin, que exercera com competência o cargo de governador, depois da triste doença que acometeu Covas.
Em todas essas situações, os tucanos ungidos não entraram no processo de negociação com uma posição fechada, com um projeto pessoal que pudesse constranger os aliados.
O PSDB é uma instituição consolidada, enraizada nos municípios brasileiros como paradigma de bom governo. Na conjuntura nacional, vivenciamos nos últimos anos a experiência do papel de oposição a um governo que se apropriou de soluções que havíamos criado na economia e na área social. O que está dando certo no Brasil é legado nosso, embora o governo não o reconheça.
Estamos avançando, a despeito de todas as dificuldades, porque somos sustentados por nossa história. Balizado por esse contexto partidário e pelo conhecimento da realidade do PSDB na cidade de São Paulo, insisto que temos o dever de dar prioridade à aliança com o DEM. É o nosso dever de lealdade e de coerência, até para evitar que nosso partido venha a ser estigmatizado com a pecha de hegemônico ou "fominha", fato que não se repete na maioria dos Estados brasileiros (Minas, Rio, Goiás, Ceará etc.).
Lembro que, para o prefeito Serra sair candidato a governador, assumimos o compromisso de que o nosso governo municipal continuaria até o fim, em dezembro de 2008, sob o comando de Gilberto Kassab. A lealdade e a firmeza do prefeito Kassab, que comandou a prefeitura sem se afastar um milímetro do programa original, confirmaram a expectativa de todos os paulistanos que elegeram a chapa tucano-democrata em 2004.
O comando de Kassab de uma administração de maioria tucana acrescenta valor à experiência partidária, na qual normalmente as alianças se dão para fins eleitorais ou no máximo para construir governabilidade. Aqui não. É aliança de gestão, uma forma superior de concerto interpartidário.
É essa a questão de fundo do debate que ora se trava. Romper ou não a dinâmica unitária vitoriosa que conferiu à aliança PSDB/DEM o poder de mudar radicalmente a história de São Paulo e do Brasil. Só podemos discutir candidaturas a partir da decisão soberana e conseqüente da manutenção da aliança como preliminar de conteúdo estratégico. É, diga-se mais, uma fórmula fundamental para o nosso objetivo para 2010.
Não podemos esquecer jamais o compromisso do PSDB com a nação, de devolver aos brasileiros nossa gestão marcada por ética e competência. O PSDB deu rumo ao Brasil. Não podemos permitir que um cálculo político de curto prazo ou qualquer outro motivo nos afastem desse rumo.


WALTER FELDMAN , 54, é secretário de Esportes da Prefeitura de São Paulo e deputado federal licenciado pelo PSDB-SP.

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