São Paulo, segunda-feira, 09 de março de 2009

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RUY CASTRO

Mega-sellers

RIO DE JANEIRO - Reportagem de Rachel Bertol em "O Globo" da semana passada trata do "mega-seller", um novo conceito de livro que, mesmo no Brasil, se vende na casa do milhão, não mais dos milhares de exemplares. O fenômeno se dá na área dos romances, poupando as biografias, as memórias e os livros de história, que, por enquanto, só têm de competir com best-sellers sobre cachorros.
Os "mega-sellers" são sempre estrangeiros, e não necessariamente americanos: podem vir da Irlanda, da Austrália ou do Afeganistão, embora só cheguem aqui depois de iniciada sua carreira nos EUA. A partir daí, onde quer que se façam listas de livros mais vendidos, eles estarão nelas, o que torna essas listas monótonas e iguais no mundo inteiro.
Donde se você tomou um avião e esqueceu em casa o seu "Código Da Vinci", "Caçador de Pipas" ou "Crepúsculo", não se preocupe -esses romances e outros da seleta lista estarão em destaque nas livrarias de qualquer país para que esteja indo. Muitas livrarias, e não só no Brasil, se baseiam nas listas para compor suas vitrines ou bancadas frontais. Donde o processo se retroalimenta: esses livros, já de grande vendagem, tenderão a vender ainda mais porque se eternizam nas listas de mais vendidos.
Como os "mega-sellers" são maciçamente estrangeiros, teme-se que as editoras brasileiras desistam de apostar no humilde romance nacional -afinal, para que se arriscar a ter 3.000 livros encalhados quando se pode vender 600 mil? Pior ainda será se nossos romancistas tentarem se adaptar ao figurino australiano ou afegão para escrever, na esperança de que, assim, serão publicados e venderão livros.
Tive uma idéia para um romance. Começará com gente de roupas estranhas zanzando pelas ruas e corujas voando pelos céus. O herói será um garoto de óculos.


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