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RUY CASTRO
Mega-sellers
RIO DE JANEIRO - Reportagem
de Rachel Bertol em "O Globo" da
semana passada trata do "mega-seller", um novo conceito de livro que,
mesmo no Brasil, se vende na casa
do milhão, não mais dos milhares
de exemplares. O fenômeno se dá
na área dos romances, poupando as
biografias, as memórias e os livros
de história, que, por enquanto, só
têm de competir com best-sellers
sobre cachorros.
Os "mega-sellers" são sempre estrangeiros, e não necessariamente
americanos: podem vir da Irlanda,
da Austrália ou do Afeganistão, embora só cheguem aqui depois de iniciada sua carreira nos EUA. A partir
daí, onde quer que se façam listas de
livros mais vendidos, eles estarão
nelas, o que torna essas listas monótonas e iguais no mundo inteiro.
Donde se você tomou um avião e
esqueceu em casa o seu "Código Da
Vinci", "Caçador de Pipas" ou "Crepúsculo", não se preocupe -esses
romances e outros da seleta lista estarão em destaque nas livrarias de
qualquer país para que esteja indo.
Muitas livrarias, e não só no Brasil,
se baseiam nas listas para compor
suas vitrines ou bancadas frontais.
Donde o processo se retroalimenta:
esses livros, já de grande vendagem,
tenderão a vender ainda mais porque se eternizam nas listas de mais
vendidos.
Como os "mega-sellers" são maciçamente estrangeiros, teme-se
que as editoras brasileiras desistam
de apostar no humilde romance nacional -afinal, para que se arriscar
a ter 3.000 livros encalhados quando se pode vender 600 mil? Pior
ainda será se nossos romancistas
tentarem se adaptar ao figurino
australiano ou afegão para escrever,
na esperança de que, assim, serão
publicados e venderão livros.
Tive uma idéia para um romance.
Começará com gente de roupas estranhas zanzando pelas ruas e corujas voando pelos céus. O herói será
um garoto de óculos.
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