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Saco de maldades
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - No seu discurso de despedida do Banco Central, Gustavo Franco
jogou maldades a torto e a direito. E
acertou em cheio o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Franco começou comendo pelas bordas. Jogou uma maldade sobre a
Fiesp, outra sobre as esquerdas, desancou o deputado Paulo Paim (PT) e
esculhambou Leonel Brizola (PDT).
Todos, segundo ele, foram contra o
cruzado, o real, o fim da inflação.
Depois de uma hora de discurso,
com o mingau quase frio, chegou aonde todos indistintamente esperavam:
mandou brasa e maldades sobre a
desvalorização do real.
Franco disse que o papel do BC é defender a moeda e essa defesa não falhou, nem foi vítima de especuladores.
Foi simplesmente abandonada por
pressão de "vozes influentes" que não
dão bola para o desequilíbrio fiscal e
buscaram uma "saída fácil".
"A defesa da moeda foi desmontada
sem sangue, no plano da persuasão",
disse, frisando que a "decisão" e o "desejo" foram de FHC. O resultado foi
"um erro": "Perdemos muito em credibilidade", "a vida ficou mais difícil",
"tudo ficou mais urgente".
No final, ele lançou um grito de
guerra dando rosto às "vozes influentes": "O desenvolvimentismo irresponsável tem que ser esconjurado de uma
vez por todas". Essa foi bem na testa
dos ministros José Serra (Saúde) e
Paulo Renato Souza (Educação), seus
principais adversários no governo.
Se foi duro contra tudo e contra todos, Franco tentou ser elegante com
"meu amigo Pedro Malan". Mas nem
o abraço final dos dois dissipou a voz
embargada e o constrangimento. Afinal, quem, senão Malan, executou tudo o que ele diz estar errado?
Ao "finalizar, finalmente", Franco
deixou explícita sua discordância com
a guinada da política econômica: "O
governo segue seu rumo, e eu, o meu".
Gustavinho, como se vê, sai do governo FHC como entrou: atrevido, arrogante, sem papas na língua. O que
não significa que esteja certo. A desvalorização foi feita no pior momento. E
se tivesse sido um ano atrás com reservas de US$ 70 bilhões?
Essa resposta ele não deu.
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