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CLÓVIS ROSSI
A direita, à esquerda do PT
PARIS - Nicolas Sarkozy é o rosto emergente mais nítido da direita
francesa. Acaba de ser deslocado do
Ministério do Interior, em que teve
certo êxito em reduzir a sensação de
insegurança dos franceses, para o Ministério da Economia.
De um talento da direita, o que se
espera, habitualmente? Que suas propostas sejam conservadoras, ortodoxas, cautelosas, certo?
Não no caso da França. Sarkozy
ousou tocar ontem, em conferência
de que participaram cerca de 30 de
seus colegas ministros de diferentes
países, entre eles o brasileiro Palocci,
no delicado tema da taxação internacional sobre o movimento de capitais, ou "Tobin Tax", inventada pelo
norte-americano James Tobin, prêmio Nobel de Economia.
Os recursos obtidos com esse imposto serviriam para financiar o desenvolvimento e o combate à pobreza.
Sarkozy teve, é verdade, o cuidado de
dizer que estava apenas sugerindo
"aprofundar a reflexão" sobre o imposto, que, de resto, já havia sido defendido, pouco antes, também pelo
presidente Jacques Chirac, o rosto de
sempre da direita na França.
O ministro francês não omitiu o fato de que há imensas dificuldades para implantar um projeto dessa natureza, inclusive pelos seus custos. Mas
foi em frente: "O que pesará mais, o
imposto ou o terrorismo, a miséria e
a desesperança?".
Claro que a relação custo/benefício
de Sarkozy passa pela aceitação de
que o terrorismo é fruto da miséria,
que leva à desesperança, que empurra sobretudo os jovens para as bombas. Não é uma tese pacificamente
aceita.
Não importa. Importa que um cidadão teoricamente conservador seja
capaz de criatividade e inventividade
no debate sobre como financiar o desenvolvimento. Seja capaz pelo menos de ousar pensar.
No Brasil, o governo teoricamente
mais à esquerda jamais eleito, bem
ao contrário, prefere o mais mofino
conservadorismo e a aceitação mansa de fatalismos econômicos.
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