São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2004

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CLÓVIS ROSSI

A direita, à esquerda do PT

PARIS - Nicolas Sarkozy é o rosto emergente mais nítido da direita francesa. Acaba de ser deslocado do Ministério do Interior, em que teve certo êxito em reduzir a sensação de insegurança dos franceses, para o Ministério da Economia.
De um talento da direita, o que se espera, habitualmente? Que suas propostas sejam conservadoras, ortodoxas, cautelosas, certo?
Não no caso da França. Sarkozy ousou tocar ontem, em conferência de que participaram cerca de 30 de seus colegas ministros de diferentes países, entre eles o brasileiro Palocci, no delicado tema da taxação internacional sobre o movimento de capitais, ou "Tobin Tax", inventada pelo norte-americano James Tobin, prêmio Nobel de Economia.
Os recursos obtidos com esse imposto serviriam para financiar o desenvolvimento e o combate à pobreza. Sarkozy teve, é verdade, o cuidado de dizer que estava apenas sugerindo "aprofundar a reflexão" sobre o imposto, que, de resto, já havia sido defendido, pouco antes, também pelo presidente Jacques Chirac, o rosto de sempre da direita na França.
O ministro francês não omitiu o fato de que há imensas dificuldades para implantar um projeto dessa natureza, inclusive pelos seus custos. Mas foi em frente: "O que pesará mais, o imposto ou o terrorismo, a miséria e a desesperança?".
Claro que a relação custo/benefício de Sarkozy passa pela aceitação de que o terrorismo é fruto da miséria, que leva à desesperança, que empurra sobretudo os jovens para as bombas. Não é uma tese pacificamente aceita.
Não importa. Importa que um cidadão teoricamente conservador seja capaz de criatividade e inventividade no debate sobre como financiar o desenvolvimento. Seja capaz pelo menos de ousar pensar.
No Brasil, o governo teoricamente mais à esquerda jamais eleito, bem ao contrário, prefere o mais mofino conservadorismo e a aceitação mansa de fatalismos econômicos.



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