São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2004

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SERGIO TORRES

Pedido de desculpas

RIO DE JANEIRO - Ao anunciar com todas as letras que o caseiro Jossiel dos Santos matara o infeliz casal Staheli, o secretário de Segurança do Estado do Rio, Anthony Garotinho, cometeu uma irresponsabilidade equiparável à do dia em que, veladamente, insinuou que a filha mais velha das vítimas, de 13 anos, era a principal suspeita do crime.
Para os que não guardam na memória histórias do mundo cão: Todd e Michelle Staheli foram golpeados na cabeça enquanto dormiam em 30 de novembro do ano passado. Morreram. A família morava havia três meses no Brasil, com os quatro filhos. Todd trabalhava na Shell.
Logo a polícia concluiu pela culpa da menina, que chegou a ser proibida de deixar o país. Nada ficou provado contra ela, que, já nos EUA, tenta se recuperar da tragédia de filme de terror que atingiu sua família.
Após quatro meses de investigações fracassadas, Garotinho reuniu os jornalistas há nove dias para anunciar que a polícia prendera o assassino, um caseiro empregado na propriedade vizinha.
No comando de uma coletiva/interrogatório, à frente de dezenas de pessoas reunidas por sua assessoria, Garotinho fez perguntas ao, então, réu confesso. Com o semblante fechado, o ex-governador perguntou se ele matara o casal. Submisso, o rapaz respondeu: "Sim, senhor".
A cena patética não encerrou o caso, como esperava Garotinho. A partir daí, Santos tem contado as mais variadas histórias. Até ontem, já mudara cinco vezes a versão inicial.
Há dois dias, Garotinho veio a público desabafar: culpou os investigadores pelo papel vergonhoso que desempenhou. "Fui induzido ao erro", disse. É muito pouco reconhecer isso. Um pedido de desculpas cairia bem. Afinal, o secretário de Segurança anunciou à sociedade que o mais rumoroso caso policial dos últimos tempos estava esclarecido. E não está. É tamanha a confusão que, no dia em que estiver, ninguém vai acreditar.



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